segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Transformar o sofrimento em Realização!

Encerrando este longo ano de 2013, há um antigo conto samurai que gostaria de compartilhar com vocês para iniciarmos nosso diálogo de hoje.

Na velha China, contava-se que um samurai, depois de ter sido derrotado numa importante provação, vagou sem rumo pela floresta, apresentando ansiedade, pensamentos confusos, enfurecido e sem querer aceitar a derrota.

Em certo momento, ele parou frente a um lago que encontrou no seu caminho e lançou violentamente uma pedra contra as suas águas, que se agitaram violentamente. O samurai ainda com raiva e ressentido, percebeu algo e refletiu:

- “Mesmo ofendido e perturbado com a pedra a qual atirei, em instantes o lago recompôs sua serenidade, retornando a um estado de tranquilidade que talvez pareça maior que o inicial."
Guardando em seu coração o ocorrido, certa feita foi ter com seu velho mestre espiritual, com o qual pode compartilhar o ocorrido, ao que o mestre lhe respondeu: 

- “O Lago faz com que a pedra se perca na sua grandeza e profundidade, logo, é como se tivesse sido atingido por nada. O lago conserva em si o silêncio, e não as queixas. Eis o segredo de sua serenidade”. 
 
O Samurai curvou respeitosamente em gratidão para o mestre e declarou: 
- “Hoje aprendi um grande ensinamento com as águas silenciosas daquele lago”!


Certos momentos de nossa vida são desafiadores, e quando chegamos ao final do ano, tenho a certeza de que todos podem olhar para trás e perceber os muitos desafios os quais tiveram de enfrentar para chegar até aqui. Da mesma forma que o samurai, precisamos aprender a vivenciar momentos em que nossa mente possa silenciar através da total entrega, da música, da arte, da dança, da meditação, da oração, da contemplação da natureza, dos ensinamentos dos antigos mestres. Creio, porém, que o ensinamento mais precioso para o qual este velho conto aponta é o de que podemos transformar criativamente qualquer situação difícil em uma oportunidade de realização do nosso ser por inteiro, situação chamada pelo psicólogo Viktor Frankl de otimismo trágico. Frankl ressaltava que podemos transformar sofrimento em realização, na medida em que encontramos um sentido pelo qual viver.

Em nossa sociedade atual, muitas vezes somos puxados para fora de nós, para viver as necessidades de adaptação exterior. Porém, quando nos esquecemos de nossa alma, adoecemos. Fazemos isso muitas vezes procurando viver apenas o útil, o trabalho, a correria e todos os subprodutos de nossa mente lógica e racional. Esquecemos, no entanto, da nossa mente criativa, que está além do ego e da dimensão racional. Afastamo-nos daquilo que pode alimentar a alma sob o pretexto de que é inútil: é inútil a música, é inútil a poesia, é inútil a filosofia, é inútil a espiritualidade, é inútil a dança. E assim, aos poucos, vamos morrendo em vida, deixando de lado todas as coisas as quais mais amamos, as que alimentam nossa alma.

Jung afirmava que o ser humano de nosso tempo perdeu a capacidade de autorregulação psíquica, de naturalmente reequilibrar-se nas situações difíceis da vida. Queremos tudo para já, e, no entanto, a vida exige de nós que possamos aprender a paciência para deixar as sementes que plantamos amadurecer. Tudo que acontece sob o céu tem seu tempo e, quando aprendemos a nos sintonizar com as leis inconscientes da vida, como dizia Jung, podemos aprender a esperar o momento certo de tudo, e podemos aprender que os momentos difíceis da vida podem ser transformados em crescimento e realizações.

E o mais importante, talvez, seja encontrarmos um lugar em nós que independa de nossos momentos difíceis ou tranquilos, nosso centro. No contato com a nossa alma, aprendendo a escutar, a dialogar consigo mesmo, podemos aprender a guardar aquele silêncio do qual fala o mestre da nossa história, aprender a encontrar um sentido pelo qual viver, como dizia Frankl, transformando todas as dificuldades em incentivo para nossa realização. Podemos aprender a estar mais em contato conosco mesmos, descendo simbolicamente um tanto da cabeça para o coração, fazer a passagem da consciência de nosso eu limitado para nosso Ser ilimitado. Depois nos resta, mais uma vez, seguir nosso caminho. Aprendendo, ensinando, amando, caminhando, sendo o que se é.



Desejamos a você um excelente ano de 2014! 
Que seja repleto de realizações a partir de seu Verdadeiro Ser!
Que você possa seguir o fluxo de amor em seu coração!

domingo, 15 de dezembro de 2013

A Unidade Corpo e Psique



A mente de um sábio é aquela que vive na unidade, somático e psíquico, corpo e alma, numa sagrada ioga, numa unidade e totalidade. A palavra hindu ioga significa união, no ensinamento do Professor Hermógenes (s.d.). O mesmo podemos dizer de Tai Chi, termo chinês para união dos opostos. Muitos são os estudos da psicologia ocidental para estabelecer a relação entre mente e corpo, e escolas como a Bioenergética e a Gestalt apontam para a unidade psicossomática. Também estudos junguianos foram feitos no sentido de estudar a unidade entre corpo e psique.

O objetivo destas nossas breves considerações é estabelecer uma relação existente entre psique e corpo, tendo em vista que estas dimensões do ser humano são marcadamente constituídas quando ele encontra-se em relação, em sociedade. Assim, falamos que o ser humano possui uma multidimensionalidade que é corporal e biológica; social, cultural e histórica; psicológica, emocional e mental; e, também, simbólica, arquetípica, espiritual. Estamos propondo um ser bio-psico-socio-espiritual, acreditando que nenhuma destas dimensões pode ser excluída ao querermos analisar e compreender as multidimensões do fenômeno humano. Nós analisaremos esta multidimensionalidade a partir da interrelação corpo e espírito, formando estes dois, simbolicamente, uma totalidade, e, para isto, traremos considerações da Gestalt-terapia, da Psicologia Analítica e da Bioenergética.

A princípio, quando analisamos a unidade corpo-psique pela Gestalt-terapia, encontramos em PONCIANO (1994) que a relação terapêutica é uma relação que ocorre dentro da multidimensionalidade que são tanto o terapeuta como o cliente. Assim, terapeuta e cliente encontram-se tanto em suas dimensões corporais como psicológicas, trazendo também suas dimensões sociais e espirituais para a relação, uma totalidade humana indissociável. A relação se daria em todo um campo energético que envolveria dimensões visíveis e conscientes e também dimensões invisíveis e inconscientes. Para o autor, o corpo traria em si o inconsciente do paciente, através de uma linguagem corporal que expressaria aquilo que o cliente é, por mais que ele não tome consciência disso. Assim, para além de considerar o discurso, a fala, a dimensão consciente, a visão holística que busca a Gestalt-terapia pretende integrar também o corpo, na dimensão da terapia individual, e o grupo como um todo, na terapia de grupo, sendo que cada membro constituinte poderia servir de reflexo das dimensões inconscientes daquele cliente que está em terapia. O grupo funcionaria como um campo energético de multirrelações com o objetivo de trazer à luz da consciência aspectos até então inconscientes e dissociados. Nesta perspectiva, a doença seria a perda ou afrouxamento dos laços dinâmicos entre estas multidimensões do humano, e acura estaria na recuperação destes laços, o que faz do ser humano um amante, consciente ou inconsciente, de sua totalidade.

Para a Psicologia Analítica, desenvolvida por Carl Gustav Jung, corpo e psique são ambos dimensões do inconsciente. Segundo ZIMMERMANN (2009), o trabalho com a corporalidade pode ser uma forma de trazer à consciência aspectos do inconsciente, que se manifestam no corpo. Ao realizar um trabalho corporal como dança, Ioga, Tai Chi Chuan e tantas outras formas, são produzidos símbolos que tem como objetivo integrar consciente e inconsciente, corpo e psique, promovendo assim maior saúde e conexão com o processo de individuação, tornar-se um, integrar-se com a nossa totalidade. Quando isto não ocorre, o corpo expressa a dissociação e a doença na forma de sintomas. O corpo é capaz de carregar nossos estados afetivos, nossas vivencias, e conectar-se com o corpo é conectar-se também com o núcleo mais profundo da psique, ao qual Jung chamou de Self ou Si-mesmo. O Si-mesmo é psique e é corpo, e a integração do eu com o Si-mesmo, da nossa realidade mais superficial com nossas dimensões mais profundas, pode acontecer através deste diálogo do corpo com a psique, através da expressão corporal.

A Bioenergética é uma abordagem em Psicologia Transpessoal desenvolvida por Alexander Lowen, discípulo de Wilhelm Reich, a partir de estudos sobre a relação entre o corpo e a mente. Em seu “A função do orgasmo”, REICH (2004) postula que há no ser humano uma só energia, o orgônio, que se expressa na corporalidade e no psiquismo. Dizendo de outra forma, corpo e psique seriam expressões da mesma energia vital, a bioenergia. As emoções acumuladas, não vividas e não expressas, tenderiam a se acumular no corpo na forma de tensões, as chamadas couraças de caráter, que impedem o ser humano de se conectar com seu próprio fluxo de energia e de vida. O trabalho da bioenergética, segundo LOWEN (1984), seria combinar exercícios de movimento, meditação e respiração com o objetivo de dissolver estas tensões e restaurar o fluxo da vida, que acontece no corpo e se expressa como movimento, vibração, respiração profunda, flexibilidade, harmonia, leveza e graça. Este fluxo de bioenergia, ao ser restaurado, também encontra expressões cada vez mais elevadas na psique, se manifestando como maior criatividade, autoconhecimento, autoexpressão, afetividade, amor, prazer de viver, integridade e autorrealização.

Seja qual for a abordagem, muitos trabalhos nos mostram que corpo e psique são um só, que a totalidade humana pode ser almejada e passo a passo conquistada através da vivência corporal, com seus afetos, símbolos, com sua energia que pode fazer de nós seres humanos mais vibrantes e realizados, mais integrados e em conexão com a vida. 

Concluímos, então, incentivando nossos irmão de caminhada a cuidar do corpo, nosso templo, nossa casa, onde habita nossa energia de vida. Incentivamos práticas como a dança, as artes marciais, os esportes, principalmente em contato com a natureza, além de práticas respiratórias e meditativas como a Ioga e o Tai Chi Chuan. Aproveite: cuidar de si é cultivar a própria qualidade de vida!



Referências Bibliográficas
HERMÓGENES, José. Autoperfeição com Hatha Yoga. Rio de Janeiro: Record, s.d.
LOWEN, Alexander. Prazer: Uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.
PONCIANO RIBERIO, J. Gestalt-terapia, o processo grupal. São Paulo: Summus, 1994.
REICH, Wilhelm. A função do orgasmo. São Paulo: Brasiliense, 2004.
ZIMMERMANN, Elisabeth. Corpo e Individuação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Como uma prece...

Nesta postagem, gostaria de colocar algumas citações e frases que são como uma oração:


“Cinzenta, amigo, é toda teoria / E verde somente é a árvore/ De dourados frutos/ Que é a vida” (Goethe)

“Assim como é acima, abaixo; Assim com é fora, dentro.” (Tabula Smaradigna Hermetis)

“Conhece a ti memso” (oráculo de delfos)

“Rir muito e com freqüência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou por uma redimida condição social; saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido sucesso.” (Ralph Waldo Emerson)

“Amados, se Deus assim no amou, também nós devemos amar uns aos outros.” (I JO 1:11)

“E a tua vida mais clara se levantará do que o meio dia; ainda que haja trevas, será como a manhã”.
“E terás confiança, porque haverá esperança; olharás em volta, e repousarás seguro”.
(JÓ 11:17-18)

“Possa eu estar preparado para tomar nas mãos o sofrimento dos outros; possa eu dar a eles meu bem-estar e minha felicidade” (Livro Tibetano do Viver e do Morrer, p.282)

“E tudo quanto fizerdes, fazei de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens.” (Colossenses 3:23)

“Apaixonar-se por Deus é o maior dos romances; procurá-lO, a maior aventura; encontrá-lO, a maior de todas as realizações” (S. Agostinho)

“Em verdade eu te digo que aquele que Me vê em tudo e todo o universo em Mim, nunca Me abandonará e nunca será por mim abandonado. Para sempre estará ligado a Mim, pelos laços preciosos do AMOR”. (Bhagavad Gita, c.30)

Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda.” (C.G.Jung)

“Para nós, tratar com o inconsciente é uma questão vital – uma questão de ser ou não ser espiritual.” (JUNG, CW vol.IX/1)

“A verdade é uma só. Os sábios falam delas por muitas palavras.” (VEDAS).


UMA REFLEXÃO SOBRE A PACIÊNCIA

Um dia, o discípulo encontrou-se com seu mestre aos pés de um belo riacho. O mestre parecia mergulhado no silêncio, enquanto que a turbulenta alma do discípulo estava preocupada com o dia de amanhã, na incerteza do que poderá trazer o futuro. Decidiu interrogar ao mestre sobre qual conduta tomar para acalmar seu coração.

- Uma parte de nós deseja que as nossas questões se resolvam logo, que a vida ande para frente. Mas parece que o Universo anda em outro ritmo, bem devagar, no seu próprio tempo, o que faz com que criemos sofrimento com a impaciência. Então, Mestre, como ter mais paciência?

- A paciência é a confiança no Verdadeiro Ser. Na prática de tiro com arco, você pode visualizar um arqueiro que puxa a flecha, mas não a solta, pois deseja controlar os resultados. Assim tem sido na vida de muitas pessoas, e na sua também. Como a criança que não deixa a plantinha crescer por estar sempre abrindo o buraco para olhá-la, vocês não deixam a vida germinar, o que demanda tempo, pois não dão o espaço apropriado para que a velha semente possa morrer e para que a nova planta possa surgir. A vida surge da morte, e esse jamais poderá ser um processo indolor.

O Verdadeiro Ser vai surgindo reluzente na medida em que a escuridão e o ego vão morrendo. Mas, para o ego, abrir mão é morrer, e ele não fará isso. É somente no Verdadeiro Ser que podemos experimentar a paciência. E o caminho para se ter paciência é sentir gratidão por cada etapa do processo.

A mãe carrega com paciência o bebê no útero, e ainda assim ela vive saudavelmente o processo de espera, na medida em que sente gratidão por cada etapa. A árvore tem paciência, e somente produz frutos no momento propício, expressando sua gratidão pela vida. A natureza é sábia, pois é símbolo de harmonia e perfeição Daquela Inteligência Infinita que a criou, o Grande Mistério inominável. Mesmo os que não acreditam em um deus, devem observar que há na Vida uma Inteligência Suprema que nos ultrapassa. Observar o milagre da vida e sentir gratidão nos harmoniza novamente com o fluxo do Universo, e sentir gratidão por cada uma das mais simples manifestações da Natureza Sagrada nos faz sentir conectados com o que verdadeiramente somos, aqui e agora, pois nós somos um só com a Natureza Sagrada.

A paciência é como fruto desta sublime conexão, quando, com as mãos em prece, dizemos GASSHO, NAMASTÊ ou AMÉM, eu me entrego à Vontade que é maior que minha vontade, eu saúdo o que há de mais sagrado na vida, dentro, fora e através de mim, eu me entrego à não ação, a wu wei, pois esvazio-me de mim mesmo, e permito que somente a ação inspirada pelo Verdadeiro Ser possa surgir através de mim.

Cada um de nós é como um canal do Verdadeiro Ser, como o vazio do bambu, a serviço do amor e da vida. Podemos resistir ao fluxo de amor e nadar contra a corrente, feito ego impaciente, mas também podemos conscientemente nos entregar ao fluxo de TAO, ao fluxo de energia e de vida, e nos sentir gratos na medida em que participamos deste mistério que nos ultrapassa, sentir gratidão por sermos os canais da energia universal que nos quer utilizar sempre e cada vez mais para espalhar sabedoria, paciência, gratidão, cura, presença, todos os frutos, enfim, de uma vida com bases bem fundamentadas no transpessoal AMOR.


UMA REFLEXÃO SOBRE A SOLIDÃO

Certa vez, um discípulo caminhava pela floresta que conduzia ao templo de seu mestre. Sua alma estava dolorida pelo período de solidão ao qual enfrentava. Ao receber o discípulo, o mestre conduziu-o por uma meditação para suavizar e acalmar sua mente, e seguiu-se o diálogo:

- Mestre, parece-me que às vezes agimos baseado no medo da solidão. Atuamos utilizando máscaras, as quais estão mais de acordo com o que os outros esperam de nós do que o que realmente nos indica a voz de nossa intuição, o chamado de nosso Ser mais profundo. Como a sabedoria pode nos ajudar a atravessar o medo da solidão?


- Meu filho, a sabedoria de toda uma vida é como uma flor que nasce dos pântanos da alma. Enquanto a solidão alimenta-se e brota justamente da mesma substância que alimenta as nossas sombras interiores, a gratidão pela vida na contemplação do Ser verdadeiro transmuta em luz de amor todos os medos. Onde habita a gratidão e o amor, não pode haver espaço para o medo. O medo é fruto do egoísmo, a prisão do ego que nos acorrenta e nos impede de dar um passo no rumo de nossa felicidade. Quando estamos no espaço interior a partir do qual sentimos gratidão, estamos como fosse no olho do furacão. Há muito movimento, causado pela mente, pelo ego e pelas sombras. Há o movimento de nossa própria vida encarnados na matéria, que ruge qual a mitológica Babilônia, o grande furacão da inconsciência coletiva, também chamada Maya. Mesmo assim, em meio ao medo, em meio à incerteza ou em meio à dor, podemos conscientemente nos sintonizar com a gratidão, agradecendo os aprendizados do passado e do presente, e desenvolvendo confiança de que nos próximos passos a vida nos trará novos caminhos, afinal de contas tudo é mutação. A vida é rio que corre sempre em frente, então podemos expressar gratidão e fluir junto com o rio, observando sua passagem. As águas do rio não podem ficar presas àquela bela montanha ou àquelas belas pradarias que ficaram no passado, que ficaram para trás. Às vezes as águas do rio devem ser levadas às regiões áridas, representação daquilo que habita em nosso interior e não queremos enxergar. De qualquer forma, elas devem permanecer correndo no fluxo da vida, para desaguar no oceano e cumprir sua meta, culminando assim na autorrealização, no cumprimento de seu propósito mais profundo. A meta da vida é o aprendizado constante, através do desenvolvimento da consciência até que culminemos com nossa entrada consciente de volta a TAO, o que representa a salvação ou a iluminação, como mergulho de dissolução num Oceano de Amor que já está em nós, mas que ainda não conseguimos perceber. A gratidão, a compaixão e o amor é o caminho dos sentimentos nobres que nos sintonizam com o fluxo da Vida, e é a amorosidade de nosso ser essencial um caminho como bálsamo salutar que nos facilita o retorno ao fluxo de TAO, a ser aquilo que nós verdadeiramente somos.

sábado, 9 de novembro de 2013

NADA IRÁ NOS PREENCHER


Nada irá nos preencher. Sim, pois o preenchimento é interno. Pelo menos esta é a tese que quero apresentar neste texto de hoje. A plenitude a qual nós tanto aspiramos só pode vim de dentro de nós, da descoberta e do contato com nosso Ser interior. Muitas vezes tentamos mudar os outros, tentamos mudar a nós mesmos, tentamos mudar o que é. Eu também faço e fiz isso muitas e muitas vezes. Este tipo de atitude caracteriza, no entanto, uma não aceitação do que é, uma desconexão do fluxo da vida. Causa dor e sofrimento para nós e para os outros. E, paradoxalmente, a mudança somente acontece na plena aceitação, quando podemos silenciar nossa mente ou nosso ego e nos assentar na presença de nossa amorosidade essencial. Aceitar o que somos, aceitar este momento. Fluir com o que é. Amar o que é. Amar os outros e ter paciência com os seus limites. Amar o que somos e ter paciência com nossos limites.

Nada vai preencher este vazio que caracteriza nosso ego. Esta sede interior, que vem da desconexão com o verdadeiro Ser, não pode ser saciada com as águas do mundo fora de nós, mas somente com a aqua doctrinae dos alquimistas, a fonte de água viva dentro de nós. Na superfície da vida e do eu, tudo é mudança, tudo é passagem. No verdadeiro ser, nas profundezas do oceano de amor que nós verdadeiramente somos, tudo É, o constante, ilimitado, além do eu, além da forma. "Não se trata de estar amando alguém, mas sim de SER AMOR!" nos aponta o caminho o sábio Osho.



AS FERIDAS DA ALMA

Dentro de nós existe uma criança ferida. Muitas vezes temos vergonha de nossa imaturidade, mas, justamente quando não a percebemos, ela puxa nosso tapete, clamando nossa atenção. Esta criança ferida em nós exige atenção, respeito, dependência dos outros, ser importante ou indispensável. Às vezes, fugimos de nossa dor procurando construir uma auto-imagem idealizada de poder, de serenidade inabalável ou de bonzinho ou boazinha. O que acontece aí, na verdade, na linguagem do Pathwork de Eva Pierrakos, é que estamos procurando falsos substitutos para o amor. O que nossa criança quer mesmo é ser aceita, ser amada, e de alguma forma acreditamos que sendo "alguém melhor" seremos amados, mas não sendo o que eu sou.  

Como eu posso curar minhas feridas? Perguntei e a minha intuição respondeu: "Curando a ferida dos outros"...  É como diz aquela famosa lei: buscai e achareis. Quem fere, fere a si mesmo, quem cura, cura a si mesmo. O que você quer receber da vida, procure dar... Todo o universo é uma interconexão entre dar e receber. Não tenho certeza se esta é uma resposta certa ou definitiva, nem tampouco acredito que seja um caminho universal, mas acredito mesmo que o importante é escutar o chamado de nosso eu interior. Ele fala conosco justamente através de nossa intuição. Eu sei que este é meu chamado, para minha vocação de ser terapeuta... E o seu chamado qual é? Aposto que sua intuição já respondeu... Escute... o silêncio...



OLHAR PARA DENTRO

Nossa sociedade nos faz procurar fora de nós momentos de grandes realizações: reconhecimento, segurança, poder, cursos, viagens, aparências, títulos, o relacionamento com a pessoa ideal, etc. No entanto, o caminho para a saúde e a cura no sentido integral está em nos harmonizar com nossa alma na comunhão com o fluxo da vida, nos harmonizar com aquilo que nós verdadeiramente somos e viver o equilíbrio entre o que a vida exterior nos pede e ao mesmo tempo atender à vocação a qual nossa alma chama em nosso interior. É disso que trata toda a jornada de autoconhecimento: dentro de nós é possível retornar a ser o que se é.

Outro dia num sonho um mestre me disse que procurasse guardar silêncio. Justamente eu que tanto falo e escrevo? Justamente por isso, talvez. No silêncio, na meditação, na oração, encontramos a porta estreita que nos leva à comunhão com nosso verdadeiro Ser. Apenas no silêncio podemos encontrar as respostas para nossa alma, a diretriz do nosso caminho. Assim, no interior do templo, na silenciosa presença do Ser, poderemos nos reconectar a quem nós somos. É uma questão de parar de procurar fora, e passar a olhar para dentro de nós. "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro acorda" já dizia Jung. Dentro de nós estão todos os segredos da vida. Dentro de nós está todo o mistério, toda a magia. Dentro de nós está tudo o que procuramos fora, nossa realização, nossa totalidade, nossa plenitude. Assim, aprendiz do mestre silêncio, percebi o novo mito pelo qual eu vivo: o COSMOS interior, encontrar e realizar este universo no interior do que eu sou. 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Uma hora você vai precisar de terapia

Publicado em nossa coluna REALIZAÇÃO HUMANA
Uma Parceria com Instituto Sherpa
http://www.institutosherpa.com.br/uma-hora-voce-vai-precisar-de-terapia.html#.UmFFcPlQGPw



Na nossa sociedade tem-se o costume ainda pouco saudável de se acreditar que só quem faz terapia é quem tem graves problemas, ou é louco ou é doente.

No entanto, em uma discussão com os amigos do Instituto Sherpa sobre este assunto, ficou claro nosso consenso de que não se trata apenas disso, que fazer terapia vai muito além dos limites do patológico e que é uma forma de promover autodesenvolvimento, qualidade de vida e de despertar recursos e estratégias interiores para que cada pessoa possa trilhar seu caminho de autorrealização.

Então decidi escrever este texto buscando esclarecer um pouco mais o assunto.

Sim, o acompanhamento de um bom terapeuta, seja em psicoterapia, seja em hipnoterapia, por exemplo, é muito importante em casos patológicos, alivio e cura de sintomas como fobias, síndrome do pânico e outras crises de ansiedade, quadros de depressão e até mesmo quadros graves como esquizofrenia. Até mesmo em momentos de estagnação, perdas e luto, mudanças, um guia bem qualificado pode ajudar a pessoa a encontrar o melhor de si mesmo, vivenciando um processo de cura. Casos de problemas de aprendizagem e dificuldades de relacionamento também podem ser trabalhados num processo desta ordem. Mas, para além de uma visão de saúde com o objetivo de curar doenças e sintomas, defendemos aqui uma visão de promoção de saúde, de autocuidado, de promover melhores níveis de vida para quem deseja aproveitar ainda mais as possibilidades do que a vida tem a oferecer.

“Terapia é um processo de aperfeiçoamento para todo ser humano, para desenvolver e despertar o melhor em nós.”

A meta principal deste texto é destacar que terapia não é só para doentes. Quer desenvolver sua criatividade? Podemos trabalhar com meditação e arte-terapia, desenvolvendo seus próprios recursos e despertando sua dimensão criativa. Quer mais sentido ou significado na sua vida? Um acompanhamento em Psicoterapia, com a Logoterapia, por exemplo, certamente vai lhe ajudar. E que tal viver em mais qualidade de vida, em mais plenitude? Um trabalho de Renascimento pode ser o ideal para você. Quer vivenciar sua plenitude de recursos, administrar e superar desafios na vida? Quer encontrar um caminho para, a partir de seus próprios recursos, transformar seus sonhos em realidade? Um acompanhamento em Hipnoterapia ou Hipnose clínica pode certamente te ajudar a despertar o melhor que já está em você.


Então, o mais importante é você perceber agora mesmo que uma vida de mais plenitude, de mais recursos, de mais realização está disponível para você agora mesmo. Terapia é um processo de aperfeiçoamento para todo ser humano, para desenvolver e despertar o melhor em nós. Um bom guia, um bom condutor, um bom Sherpa, pode levar você a trilhar estes caminhos para viver uma vida de mais plenitude e realização. Estamos aqui de mãos dadas com você para despertar e desenvolver nosso melhor potencial. Que uma vida de qualidade e excelência humana esteja disponível para você agora mesmo!

Cura-te a ti mesmo

A compreensão holística da saúde em Edward Bach




O Dr. Edward Bach foi um médico inglês à frente de seu tempo. Desenvolveu um sistema de cura baseado no potencial terapêutico de determinadas essências extraídas de flores de plantas. Seu sistema conta com 38 essências e mais uma combinação emergencial, o "rescue remedy", e é indicado para desequilíbrios de ordem emocional, principalmente medos, indecisões e inseguranças, falta de energia, desinteresse na vida, no momento presente, submissão, solidão, e isolamento.

O Dr. Bach tinha uma compreensão holística de saúde, percebendo que a personalidade e a emoção estariam relacionadas com as desordens físicas de seus pacientes. Ele escreveu seu famoso princípio "cura-te a ti mesmo", passando para as pessoas a mensagem de que a cura física e emocional estaria diretamente ligada ao propósito espiritual de nossa existência. Buscar nossa real vocação seria, para o dr. Bach, de fundamental importância para nossa saúde física e espiritual. A seguir, trazemos um texto do próprio dr. Bach, falando sobre sua visão holística em saúde, mais que atual, uma necessidade para nossa época, na qual estamos tão separados de nós mesmos, de nossa verdadeira natureza:

A saúde depende de estarmos em harmonia com nossas almas.

A saúde é nossa herança nosso direito. É a completa e total união entre alma, mente e corpo, e não é um ideal longínquo a ser alcançado, mas para um objetivo tão fácil e natural, é de se esperar que muitos de nós o negligenciem. 
Todas as coisas materiais são apenas a interpretação de coisas espirituais. A menor e mais insignificante ocorrência tem atrás de si um processo divino. Cada um de nós tem uma missão divina neste mundo e nossas almas usam nossas mentes e corpos como instrumento para a realização dessa missão. 
Uma missão divina não significa sacrifício nem afastamento do mundo, nem rejeição das alegrias provenientes do que é belo e natural. Ao Contrário, Significa uma alegria maior e mais completa, significa fazer o trabalho que amamos com todo nosso coração e nossa alma, seja ele plantar, cuidar da casa, pintar ou servir nossos irmãos. E esse trabalho, qualquer que seja ele, é comandado definitivamente por nossa alma, a obra que temos que realizar neste mundo, e a única na qual podemos ser verdadeiros, interpretando de modo natural a mensagem de nosso Eu Superior. Através de nossa saúde e felicidade, podemos julgar quão bem estamos interpretando essa mensagem. Há no homem perfeito todos os atributos espirituais e viemos a este mundo para manifestá-los, aperfeiçoá-los e fortalecê-los, de modo que nenhuma experiência, nenhuma dificuldade possa lhes enfraquecer e nos desviar da realização deste propósito. 
Escolhemos uma ocupação aqui na Terra, e as circunstâncias externas que nos darão as melhores oportunidades para que sejamos testados; viemos com nossa obra particular já realizada; viemos com o incrível privilégio de saber que todas as nossas batalhas estão ganhas antes de lutarmos; viemos sabendo que a vitória é certa, antes do teste, porque sabemos que somos filhos do Criador e, como tais, somos Divinos, inconquistáveis, invencíveis. Sabendo disso a vida é uma alegria, dificuldades e experiências podem ser encaradas como aventuras, pois temos apenas de perceber nosso poder, temos de ser verdadeiros em relação à nossa Divindade, para que tudo, todas as dificuldades se desfaçam, como a névoa sob a luz do sol. Deus deu realmente a Seus filhos, o domínio sobre todas as coisas.  
Nossas almas nos guiarão, se lhes dermos ouvidos, em todas as circunstâncias, em cada dificuldade. E a mente e o corpo assim dirigidos, transporão a vida irradiando felicidade e perfeita saúde, livres de todas as preocupações e responsabilidades, como uma criança confiante.

Como funciona o tratamento: os florais de Bach são administrados no formato de solução, devem ser ingeridos sob orientação do terapeuta. São divididos em grandes grupos, a depender dos tipos de sintomas: grupo do medo, da incerteza, solidão, hipersensibilidade, grupo da depressão, da preocupação excessiva, do desinteresse pelo presente e os florais compostos, como o rescue. Os florais atuam em nossos corpos mais sutis, promovendo uma mudança a princípio imperceptível, mas a médio prazo promovedora de saúde, equilíbrio emocional e qualidade de vida. É um ótimo complementar para processos terapêuticos. Consulte um terapeuta habilitado!




VOCÊ PODE VIVER MAIS HARMONIA!

Acesse nosso novo blog REALIZAÇÃO HUMANA:



    

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A jornada terapêutica: uma visão Holística Transpessoal

Este texto é o resumo de uma palestra que fizemos na UFC, em uma parceria entre NUPLIC (núcleo de Psicologia Clínica) e Instituto Sherpa. O objetivo da palestra era apresentar o valor das práticas terapêuticas, e pudemos contar com um psicanalística e com um psicólogo humanista-existencial, além de nossa presença, representando a visão Holística Transpessoal. Aqui, abordamos os principais pontos do que foi explorado por nós nesta apresentação.


Visão Holística e Psicologia Transpessoal

Visão Holística é um termo que dá conta da multidimensionalidade do ser humano, enxergando-o como um ser energético, corporal, relacional e espiritual. As terapias holísticas surgem da sabedoria dos povos antigos, como a tradicional medicina Ayurveda indiana, a Medicina Tradicional Chinesa e os ensinamentos de tradições como o Xamanismo. Nós trabalhamos mais especificamente com a Sabedoria Chinesa, de onde surgem práticas para uma saúde integral como Ioga Chinesa, Tai Chi Chuan, Kung Fu e Acupuntura. Nós trabalhamos, por exemplo, com a Massagem Chinesa, o Reiki Taoista, a Reflexologia, dentre outros.

Terapia Transpessoal, por sua vez, surge a partir do movimento transpessoal, que está na base dos novos paradigmas científicos que passaram a ser discutidos a partir do século XX, quando a física moderna nos postula um novo modelo de realidade, onde energia é matéria e matéria é energia. Um movimento multidisciplinar começa então a repensar e a refazer o modo de se fazer ciência, o que vai ter reflexos em todas as disciplinas, como na Ecologia, na Medicina, na Educação e na Psicologia. A Psicologia Transpessoal surge em 1968, neste contexto de efervescência cultural de grandes transformações como a contracultura, o movimento hippie e as lutas sociais. Busca criar um novo modelo de entendermos o homem e o universo, dialogando com as tradições espirituais da humanidade, incluindo a dimensão espiritual como fundamental para o entendimento do ser em sua totalidade. Conta com os trabalhos de Abraham Maslow, Bert Hellinger, Stanislav Grof, Alexander Lowen, Roberto Assagioli, Pierre Weil, dentre outros. Alguns exemplos de Terapias Transpessoais: Bioenergética, Respiração Holotrópica, Constelações Familiares, Psicossíntese, dentre outras.  

Terapias Holísticas e Terapias Transpessoais, portanto, dialogam na medida em que entendem o ser humano como uma totalidade bioenergética e espiritual, conectado a  toda a natureza, a toda a vida, a todo o cosmos. Surgem de caminhos de conhecimentos diferentes e apresentam práticas diferentes, entretanto  sempre visando a saúde e a cura como um resgate da conexão com a totalidade, a consciência, a amorosidade essencial do nosso Ser infinito.


A jornada terapêutica

Ser terapeuta significa convidar a pessoa que chega até nós para uma jornada rumo ao seu Ser interior. As várias escolas dentro da psicologia, dentro do movimento transpessoal e nas tradições espirituais da humanidade apresentam inúmeros mapas, cartografias da consciência. Entretanto, ressaltamos, o mais importante mesmo é a viagem, explorar o desconhecido de si mesmo numa fabulosa aventura de autodescoberta, autoexpressão, criando e recriando a si mesmo, vivendo a arte de viver a vida.

Assim, um aspecto de importância fundamental na Terapia Transpessoal é a vivência. Vivenciamos os aspectos profundos do ser, vivenciamos níveis mais profundos de consciência, vivenciamos, conhecemos, descobrimos e expressamos cada vez mais novas dimensões do mistério de ser humano, buscando equilibrar a feiura da vida, a dor, o sofrimento de ser humano, com as belezas da vida, a arte de viver, a maravilha de ser humano. Stanislav Grof apontava que as experiências transpessoais, vividas dentro de um processo de terapia experiencial, promoviam a cura, a transformação e a evolução, pois a nossa consciência mais profunda despertaria seu potencial terapêutico natural. Cura, assim, seria um resgate da consciência mais ampla, além do ego e suas defesas, de nosso modos usuais de viver uma vida sem sentido. Cura seria buscar um caminhar em direção à nossa totalidade. Seria viver além do ego, no verdadeiro Ser, com plenitude de sentido, presença, vida, amorosidade.

Cura, nesta nossa visão holística transpessoal, é descobrir e expressar nosso verdadeiro Ser, o mistério que habita além da identidade usual, daquilo que acreditamos que somos. É habitar na silenciosa presença do infinito em nós, vivendo assim, a cada passo, um caminho rumo à realização desta totalidade do Ser de amor em nós. 

O terapeuta e o cliente sempre sairiam transformados desta jornada, crescidos, acrescidos, modificados pela própria viagem. Ambos deixariam de ser meros habitantes do planeta, números insignificantes numa sociedade doente, e passam a se tornar parceiros da existência, desbravadores, artesãos da arte de viver a vida em plenitude. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O valor da clínica numa visão Transpessoal



Escrevemos este texto com o objetivo de nos preparar para uma apresentação sobre o valor da terapia na visão da Psicologia Transpessoal, a quarta força em Psicologia, desenvolvida no final da década de sessenta por pioneiros como Maslow, Sutich, Fadiman, e que conta com a  participação de autores como Stanislav Grof, Pierre Weil, Alexander Lowen, dentre outros. Ressaltamos que parte do que aqui escrevemos é adaptado e atualizado de nosso livro "Sobre Psicologia e espiritualidade" (POSSIDONIO, 2013).

O nosso principal apontamento é que o objetivo de uma terapia transpessoal é viver uma vida plena de sentido e significado, viver relações significativas onde uma verdadeira conexão e crescimento possa ser estabelecida entre as pessoas, viver uma vida de plenitude, de satisfação, de comunhão com a natureza e com o universo. Acreditamos que, assim, o ser humano estaria realizando sua totalidade, vivendo laços cada vez mais significativos de amor, nosso verdadeiro Ser. 



A TOTALIDADE DO SER HUMANO



Há, na totalidade do Ser, a inteireza humana, o que é expresso na Psicologia Transpessoal em termos do pressuposto psico-somático-noético-pneumático, onde a totalidade do SER nos pode ser representada em suas dimensões psicológicas, corporais/materiais, existenciais e espirituais. Esta dimensão inclui o Mistério, com m maiúsculo, onde podemos apontar para o sagrado, para o Absoluto que nos ultrapassa, que nos transcende. Nestes pressupostos encontramos a autorrealização, e também, principalmente, a autotranscendência, ambas interconectadas como necessárias para se atingir a totalidade da realização humana. É no pressuposto do ser humano psico-somático-noético-pneumático que a dimensão espiritual do Ser pode ser integrada. Citamos o autor Roberto Crema, da UNIPAZ:



“Numa singela e bela lição, Buda perguntou a seus discípulos: “O que é o oposto da morte?”Com a mente binária, todos responderam: “Vida”. Ao que o mestre sentenciou: “Não; é o nascimento, pois a Vida é eterna!” E Cristo afirmava ser o doador de Vida, de Vida em abundância: “EU SOU o Caminho, eu sou a Verdade, eu sou a Vida”. Nosso composto trinitário existencial é atravessado pelo Mistério da Vida e, agora, estamos diante do pressuposto antropológico que dá guarida à vastidão do fenômeno humano: psico-somático-noético-Pneumático” (CREMA, 2002, p.33).



Roberto Crema continua sua exposição do profundamente humano nos falando das diversas estações do AMOR: segundo ele, “aprender a amar é a primeira e derradeira lição na escola da existência” (CREMA, 2002, p.35). 

Para ele há uma última direção e meta importante na visão Transpessoal que precisa ser apontada, pois em nós evoca a etapa suprema na arte de amar: o amor pneumático, transumano, transpessoal. É, para o autor, o amor em seu modo de ser ontológico, que é gratuito e incondicional, está além da forma, transbordando da profundidade do Ser. Amor, desta forma, é amor espiritual, por tudo o que existe e mais além, pelo que é transcendente. Amar, nesta perspectiva, é um estado de abertura da dimensão do coração, e de atenção, de cuidado, de acolhida e de escuta. É respeitar a totalidade que habita em nós, nos outros, na natureza, em todo o universo, e em tudo o que existe. “É o amor que transcende a criatura, o amor da fonte, o amor da Vida por Ela mesma” (CREMA, 2002, p.37).





A TERAPIA NUMA VISÃO TRANSPESSOAL



De acordo com Manoel Simão, a terapia de orientação Transpessoal visa promover ao cliente a possibilidade de ele se encontrar, o que pode consistir em mapear os seus “problemas” e a situá-los no ambiente social, cultural, familiar, profissional, afetivo, espiritual, etc., o que por si só já é altamente terapêutico e ainda possibilita a diminuição da ansiedade e a potencialização da autoconfiança, requisitos necessários e importantes ao início do processo de auto-cura. Isto porque, dentro desta perspectiva, é a psique quem se cura, através de seus mecanismos de busca do próprio equilíbrio.

O terapeuta que situa suas práticas dentro desta nova abordagem deve ser encarado como um facilitador, que acompanha amorosamente o desenvolvimento psicoespiritual de seus clientes, como se faz, metaforicamente, ao apresentar o solo correto para que possam florescer os botões em um jardim. Ou como na metáfora de um guia que conduz o viajante sem apontar qual é o caminho correto, deixando que ele siga o seu próprio processo, cuidando para que a jornada seja significativa.

Na terapia Transpessoal, nosso dever consistiria, segundo o autor, em conscientizar os clientes acerca da sua natureza e a extensão do seu desalinho emocional, bem como pontuar e passar informações sobre a possibilidade de desenvolver suas potencialidades e capacidades inatas, as acolhendo em seu incipiente surgimento, sendo estas formas trans-convencionais de ser, de recriar-se, de expressar-se, oferecendo recursos para viabilizar seu florescimento.

Para o autor, quando uma pessoa procura a terapia, quase sempre seu objetivo é a diminuição e até a eliminação de um estado de sofrimento decorrentes de dificuldades de ordem emocional e, acrescenta, espiritual. No caminho que faz para o interior de si mesma, ela tem a chance de adquirir mais conhecimento de seu verdadeiro modo de SER e de desenvolver-se como pessoa, buscando sua plenitude e realização

No contato consigo mesma, seja para descobrir os recursos pessoais para a evolução, seja para encarar seus “estados de consciência”, como sintomas ou processos defensivos, um guia ou orientador experiente apresenta-se como necessário. Ai está o que parece ser uma das funções básicas do trabalho terapêutico. Sabemos o quanto o acompanhamento de uma ajuda acolhedora e gentil, porém firme e determinada ao apontar para os aspectos corretos do processo é fundamental para que se possa executar os mergulhos nas profundezas do SER mais profundo de cada um de nós. 

De acordo com o artigo de Fátima Corga, “Psicologia Tranpessoal”, o que caracteriza um terapeuta transpessoal não é o seu conteúdo, mas sim o contexto. O conteúdo é determinado pela relação terapêutica em si, entre cliente e terapeuta, como, segundo ela, bem o estabeleceu Carl Rogers. Para a autora, um terapeuta transpessoal deve aprender a lidar com os problemas que emergem durante o processo terapêutico, incluindo acontecimentos mundanos, fatos biográficos e problemas existenciais e até espirituais. Contudo o que realmente define a orientação transpessoal é um modelo mais amplo da psique humana, que seja capaz de reconhecer a importância das dimensões espirituais e o potencial que esta dimensão apresenta para a evolução da consciência. 

O terapeuta transpessoal, assim, deve ser consciente do espectro total das experiências psíquicas de que é capaz o ser humano, deve ter vivenciado um processo interior e encontrado estas experiências com a consciência mais elevada, deve estar em uma busca constante de viver esta consciência, e deve sempre acompanhar o cliente em sua exploração de novos campos de experiências, quando há oportunidade, não importando qual o nível em que o processo terapêutico esteja focalizando.

O próprio Rogers, ainda segundo Fátima Corga, referiu-se muitas vezes em suas últimas obras às percepções transpessoais e fenômenos congêneres de estados sutis de consciência, e estabeleceu ele que estes são eventos observáveis e inerentes ao trabalho bem sucedido com Grandes Grupos e Workshops:



“O outro aspecto importante do processo de formação de [Grandes Grupos] com que tenho tido contato é a sua transcendência e espiritualidade. Há alguns anos eu jamais empregaria estas palavras. Mas a extrema sabedoria do grupo, a presença de uma comunicação profunda quase telepática, a sensação de que existe "algo mais", parecem exigir tais termos” (Rogers apud CORGA, in: “Psicologia Transpessoal”).



Ainda Rogers: “Tenho a certeza de que este tipo de fenômeno transcendente às vezes é vivido em alguns grupos com que tenho trabalhado, provocando mudanças na vida de alguns participantes. Um deles colocou de forma eloquente: "Acho que vivi uma experiência espiritual profunda, senti que havia uma comunhão espiritual no grupo. Respiramos juntos, sentimos juntos, e até falamos uns pelos outros. Senti o poder de força vital que anima cada um de nós, não importa o que isso seja. Senti sua presença sem as barreiras usuais do 'eu' e do 'você' - foi como uma experiência de meditação, quando me sinto como um centro de consciência, como parte de uma consciência mais ampla, universal” (idem).



De certa forma, de acordo com a autora, Rogers parecia estar indicando que a ACP por ele elaborada, junto com seus colaboradores, estaria se desenvolvendo a ponto de incluir as dimensões transpessoais em seu arcabouço teórico, mas a sua morte o impediu de levar adiante seus insights:



“Tenho a certeza de que nossas experiências terapêuticas e grupais lidam com o transcendente, o indescritível, o espiritual. Sou levado a crer que eu, como muitos outros, tenho subestimado a importância da dimensão espiritual ou mística” (ROGERS, idem).




UMA CONCLUSÃO


Toda conclusão é sempre um recomeço, todo fim é sempre o principio, todo passo é sempre o primeiro passo, e, por isso, expressamos este momento como uma conclusão. Na verdade, no nosso ser mais profundo, não há começo, não há fim, só há este momento. Todo fim é recomeço, e todos os passos são passagem. Tudo o que existe é o caminho, o caminhante, o caminhar.

Ser terapeuta numa visão transpessoal é estar a serviço do verdadeiro Ser que habita em cada pessoa. Este nosso ser mais profundo se expressa em nossas vidas como amor, como uma expressão criativa, como mudanças significativas, transformações que levam a níveis mais elevados de saúde e cura. 

Ser terapeuta numa visão transpessoal é ser capaz de guiar o outro numa jornada de autodescoberta na qual terapeuta e cliente saem transformados, crescidos e acrescidos, aperfeiçoados em sua sensibilidade, em sua amorosidade e presença. 

Resgatar a totalidade, resgatar e desenvolver nosso potencial de amar, viver a vida como artistas da existência, como uma jornada de auto-descoberta, de auto expressão criativa da beleza do Ser, caminhando num processo contínuo de auto-transcendência, de conexão e comunhão, de autorrealização,  estes são os objetivos das jornadas terapêuticas numa visão transpessoal.






REFERÊNCIAS


CORGA, Fátima. Psicologia Transpessoal. Fonte: http://www.institutoluz.com.br/?p=artigo16. Acesso em 2011-02-18 às 15h45min.

CREMA, Roberto. ANTIGOS E NOVOS TERAPEUTAS. Abordagem transdisciplinar em terapia. Petrópolis: Vozes, 2002.

SIMÃO, Manoel. Psicologia Transpessoal e Espiritualidade. Artigo publicado na Revista Saúde - Universidade São Camilo Ano 34. Fonte: www.alubrat.org.br. Acesso em 2011-02-19 às 16h40min.

POSSIDONIO, P. Sobre Psicologia e espiritualidade. Fortaleza, s. e. 2013. Disponível em www.pedropossidonio.wix.com/terapeuta.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Mergulho no Verdadeiro Ser

O encontro consigo mesmo numa visão Transpessoal


   A sociedade em que vivemos está se tornando cada vez mais adoecedora. É uma sociedade normótica, desequilibrada, na qual a norma é fingirmos que somos normais. Todos são felizes, todos são ricos, todos são realizados... mas será que se trata de felicidade e realização verdadeiras? A verdadeira realização está em viver além das máscaras e fingimentos, está em para de mentir para si mesmo somente para agradar os outros, se adaptar, ser "normal", ou, numa visão transpessoal, ser normótico. Saúde mesmo é viver em plenitude, é viver a criatividade de fazer de cada momento de nossas vidas uma obra de arte, na qual nos deslumbramos com o grande mistério da existência. Agora vamos a alguns pontos da Psicologia Transpessoal que são importantes de abordar para esclarecermos estas questões....


NORMOSE – A PATOLOGIA DA NORMALIDADE

Pierre Weil define normose como “um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte.” (Weil, 2003, p. 22). Podemos dizer, então, que ao falar de normose estamos lidando com um estado patológico onde são seguidas as normas introjetadas pela sociedade mesmo que elas conduzam ao sofrimento e à enfermidade, constituindo, portanto, uma normalidade doentia.
Quando há um estabelecimento de um hábito de pensar, sentir ou agir; quando há um comportamento executado por ser aceito por consenso social; quando há nesse comportamento uma natureza patogênica ou letal e se ele tiver gênese pessoal ou coletiva, mediante processo introjetivo, temos caracterizado um comportamento normótico.
Jean-Yves Leloup pontua que a normose é capaz de gerar sofrimento, como ocorre na neurose e na psicose. “É ela que nos impede de sermos realmente nós mesmos.” (Leloup apud Weil, 2003, p. 25). Ele agrega, então, à discussão, dois novos conceitos, o de pléroma, definido como desejo do Aberto, total presença ou plenitude, e o de kénosis, medo do Aberto, total vacuidade, aniquilamento ou dissolução do ego. A existência do homem, assim, desenvolver-se-ia por meio dos desejos e dos medos, e as transformações ocorreriam quando o desejo de pléroma vence o medo de kénosis. Em nosso processo de transformação, devemos integrar os vários níveis de consciência e, a cada passagem, a cada entrada em um novo estado de consciência, encontramo-nos diante do desejo de pléroma e do medo de kénosis.
Se a resistência diante do Aberto se manifestar na forma de terror, segundo Leloup, temos caracterizada a psicose. Se ela tomar forma de ansiedade e angústia diante do Aberto, temos a neurose. Se tivermos medo diante do Aberto, temos a normose. Na normose, é necessário ser como os outros, agradar, e não há espaço para o próprio desejo, para o próprio ser. É na normose que o ter ultrapassa o ser, e a aparência torna-se imperativo, em detrimento da essência. Leloup ressalta, porém, que se não cumprirmos o que nos pede nossa formação criativa, sem acessarmos nosso próprio pensar, nosso próprio desejo, nosso próprio criar, adoecemos, pois o eu sucumbe diante do conformismo.
Leloup aprecia, então, aspectos do que ele define como chamado do Self, que podemos sentir no interior de cada um de nós. Ele pontua que “existe algo maior do que nós. Algo mais inteligente e mais amoroso do que nós” (Weil, 2003, p. 31), que seria o Self. Podemos, porém, retroceder diante da própria grandeza, da dimensão espiritual do Ser, o que é chamado complexo de Jonas. Temos o dever de nos libertar destes medos para escutar nosso desejo mais íntimo, seguir nosso caminho passando de um plano de consciência para outro, rumo à identidade do puro EU SOU, à união com o Ser que habita dentro de nós.
Podemos pontuar, finalmente, que amplas transformações no plano social poderiam ser vislumbradas com a perspectiva da cura da normose. Às instituições sociais de controle, seja de caráter religioso seja político, nos questionamos se apoiariam a promoção de um pensamento que nos torna livres de suas regras para sermos o que realmente somos. Ao plano da psicoterapia, nós acreditamos que seria possível potencializar as transformações da consciência de cada um no sentido de realização destes íntimos desejos, destes chamados, promovendo a cura, que seria como um direcionamento para a plenitude, para a pura consciência do Ser. Como afirmara Jung, “somente aquilo que somos tem o poder de curar-nos” (Jung, 2008b, p.43). 

CONCLUINDO...

Para além de viver os jogos do ego, das aparências e ilusões desta sociedade adoecedora, somos todos convidados a fazer de nossa passagem pela terra uma obra de arte, de amor, de aprendizado. E isto inclui aceitar e integrar tudo o que nos acontece, de bom e de ruim, pois cada situação é nossa mestra, cada irmão é nosso mestre. A jornada de autodescoberta é, ao mesmo tempo, uma jornada de realização (tornar real) e de criação de nosso Ser, e cada um de nós tem a missão de deixar sua marca única com sua passagem, pois somos todos esplêndidas expressões deste infinto oceano de amor, parte da grande teia da vida!



"APAIXONAR-SE por Deus é o maior dos romances; PROCURÁ-LO, a maior aventura; ENCONTRÁ-LO a maior de todas as REALIZAÇÕES". (Santo Agostinho).



Então finalizamos com este exercício de imaginação: respire fundo agora, tente relaxar e soltar as tenções na expiração, e tomando três ou quatro inspirações profundas... imagine uma luz, a luz do seu verdadeiro ser, percorrendo todo o seu corpo... Imagine esta luz bem mais forte, respirando mais fundo, na região do seu coração... Esta linda luz conecta você novamente com seu ser mais profundo, com sua essência mais amorosa ou espiritual, ou sua inteligencia mais profunda... O importante é usar o termo ou a compreensão que seja mais confortável para você. E cada vez você respira mais e mais fundo, vivenciando um mergulho no seu Verdadeiro Ser... Respire cada vez mais fundo e se pergunte:  o que Deus, em meu interior, o que o Amor Infinito, o que a Vida viva ou a Inteligência Infinita me entregou como dons para que eu possa desenvolver aqui nesta experiência de vida? Qual é meu caminho de realização neste momento? Como posso expressar e viver o amor de modo mais e mais profundo, mais e mais verdadeiro? Como posso encontrar-me mais verdadeiramente comigo mesmo, comigo mesma? Para quem gostar da ideia de viver a sinceridade consigo, espero que sejam vivas e verdadeiras as suas respostas...

Fica aqui o convite para você ser aquela pessoa que você realmente pode ser e sonha ser, aceitando o agora e abraçando seu caminho de realização!






Referências:

JUNG, C. G. O Eu e o Inconsciente. Obras Psicológicas Completas Vol. VII/2. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

WEIL, Pierre. Normose: a patologia da normalidade / Pierre Weil, Jean-Yves Leloup, Roberto Crema. – Campinas, SP: Verus Editora, 2003. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A nossa própria luz



Esta semana uma cliente me presenteou com este texto, parte do famoso discurso de Nelson Mandela ao assumir a presidência da Africa do Sul:



Não é o estar confrontados com a nossa mediocridade ou as nossas insuficiências que mais tememos

Pelo contrário, nosso temor mais profundo é medir toda a extensão do nosso poder.

É nossa luz o que nos dá medo, e não nossa escuridão.

Nos perguntamos:
Quem sou eu para mostrar-me tão hábil, tão cheio de talento e tão brilhante?E quem seríamos pois para nos mostrar-nos assim? 

Somos filhos de Deus.

Não servimos ao mundo fazendo-nos menores do que somos.

Não há nenhum mérito em diminuir-se a si mesmo para que os outros se sintam seguros.

Estamos aqui para brilhar com todo o nosso esplendor, como fazem as crianças.

Temos nascido para manifestar a pleno dia a glória de Deus que está em nós.

E esta glória não reside unicamente em alguns de nós, mas em todos e em cada um.

Quando deixamos que nossa própria luz resplandeça, sem saber, damos permissão aos demais para fazerem o mesmo.

Quando nos libertamos de nosso próprio medo, nossa presença libera automaticamente os demais.




A propósito: amo mesmo o meu trabalho! Somente como terapeuta eu poderia crescer, aprender, prosperar e viver momentos como este, no qual sou presenteado pela vida com este texto, através de alguém a quem estava servindo. Imediatamente pensei que deveria repassar para as pessoas, escrever sobre ele, com as reflexões desta semana.

Às vezes, nós nos apegamos à nossa zona de conforto. Preferimos o prazer daquele velho lugar conhecido, aquela velha caixinha ou bolha na qual vivemos. Não arriscamos viver o que a Vida poderia nos mostrar, e deixamos de lado o mais importante de nossa jornada: o aprendizado. Lições que, a cada dia, nos levariam passo a passo em nossos caminhos de realização.

Nos apegamos muitas vezes a nossos erros. Nosso ego adora a posição de vítima, de injustiçado, de coitadinhos oprimidos pela vida, pelos pressupostos gigantes e poderosos, pelos pais e por quem quer que mais seja. Adoramos também colocar no passado a raiz de nossa escolha em permanecer na mediocridade. Ou quem sabe um diagnóstico? "É porque eu tenho a doença tal", e aí eu deixo de ser uma pessoa e passo a ser a doença. Assim escolhemos ser o pior de nós. Nos apegamos, muitas e muitas vezes, às nossas emoções, mas nós não somos as nossas emoções. Não somos nenhuma destas identificações. Você não é seu corpo, você não é seu nome, você é a consciência infinita que observa e experiencia tudo isto.

Uma amiga me disse esta semana que temia perder o namorado. Ela me explicou que todo o seu dia era um dia medíocre, na qual ela ia sobrevivendo, automaticamente, e não vivendo, e, somente quando em contato com ele, ela tinha vida. Eu disse que ela podia se preparar, pois ia mesmo perdê-lo. O pior de tudo: já havia perdido a si mesma. E se, eu lhe sugeri, você escolhesse fazer do seu dia uma obra de arte, uma obra de amor? Em vez de viver sempre na lama e esperar que o outro lhe traga as flores do dia, você se dá cada vez mais flores, você faz do seu dia um dia de excelência, e quando o outro chegasse, você apenas compartilharia essas flores com ele... imagine como seria relacionar-se assim, a partir da sua totalidade e não da falta, a partir de sua inteireza. Podemos, sim, viver uma vida mais inteiros!

Eu disse a ela que fizesse durante todo o seu dia pequenos rituais nos quais ela iria cuidar de si, dar-se amor, presentear-se com momentos de qualidade de vida! Ela falou que faria isso, pois adora dançar e colocaria uma música boa e especial para si mesma. Muito bem, eu disse, e além da música existem muitos outros recursos como pintar, desenhar, escrever, ler o que te agrada, praticar esportes, contemplar a natureza, meditar, viver uma prática espiritual ou uma terapia. O importante é aprendermos a cuidar melhor de nós mesmos, aprendermos a dar amor para nós mesmos até que este amor transborde para nossos relacionamentos, para nosso trabalho, para nossa família, para nossa grande viagem que é a vida. 

Podemos escolher ser, cada vez mais a luz do mundo. Não que não tenhamos sombra. Não que não exista a sombra. Com luz quero apenas referir que nós podemos escolher ser, cada vez mais, a nossa essência sábia e  amorosa, que está para além das fronteiras do ego, das nossas identificações, do nossa história pessoal, mas trata-se de uma presença amorosa, inteira, aqui e agora que irradia em nós. Se você ainda não encontrou esta dimensão em você, saiba que ela existe, e seria muito interessante dedicar a vida a procurá-la. Os sábios do passado diziam que o Buda vive em nós. Nós somos a consciência infinita, onde  tudo está contido. Esta consciência é Buda, é Cristo, é Krishna, é cada um dos Mestres Ascensionados da humanidade, faróis do Amor Infinito a iluminar nossas vidas. Buda dizia que já somos Buda, apenas ele se lembra disso e nos estamos esquecidos, como que presos nas teias de um sonho. Então, desperte!

São Paulo também dizia: Já não sou eu que vivo, mas o Cristo é quem vive em mim! Acredito que com isso ele fazia referência a esta mesma essência amorosa, o Verdadeiro Ser em nós. Termino então com este convite: que o Amor infinito possa se realizar cada vez mais em nossas vidas!


Sejamos amor!


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O Desafio


Há momentos na vida aos quais eu chamaria de "O Desafio". Num conto ZEN, diz-se que, quando um cavaleiro cai de seu cavalo, deve montá-lo imediatamente ou temerá e talvez jamais volte a fazê-lo. Lembrei-me desta metáfora quando aprendia a andar de skate, e as primeiras quedas me traziam arranhões e marcas roxas. Mas, ao subir novamente e novamente andar, e depois cair e a seguir levantar, cair e levantar, pude vivenciar que continuar a fluir é mais interessante que deixar-se ficar nas quedas do caminho, no passado que não mais nos levará a caminhar.

Os amigos de ontem poderão ser os que te atrasarão hoje. Nos lugares onde você era amado, poderá ser que se tornem os lugares onde serás desprezado. O brilho falso de todas as pedras que se passavam por preciosas passará. Há uma passagem na Bíblia que fala que toda árvore que não produz frutos será arrancada. Estes momentos difíceis são justamente o que chamamos de "O Desafio". A vida é uma questão de quantas vezes escolhemos cair e levantar, quando escolhemos continuar a jornada, renascer e caminhar, independente do que tenha nos acontecido, independente da lei universal da impermanência, que faz tudo o que construímos se dissolver no ar.

Tenha fé. Tenha fé. Tenha fé. É justamente na mudança de perspectiva que saímos da posição de vítimas, de injustiçados, e escolhemos conscientemente nos levantar. Aprender a lição que a vida nos trás. Cada situação é um professor. Cada pessoa pode ser um mestre. Cada momento trás um aprendizado importante sobre quem você verdadeiramente é. Cair e levantar, pois "é nas quedas que o rio ganha força", como dizia o Professor Hermógenes. Escolher olhar para as dificuldades do caminho como parte da caminhada, que farão a vitória almejada ter um sabor todo especial, o da superação de si mesmo, o atravessar dos limites, a cura das dores da alma, a conquista do próprio Ser. Níveis mais elevados de Vida virão. Níveis mais elevados de amor, é o que você viverá. Nova vida, nova era, novos níveis de Ser. Desejo a você que os desafios da vida tragam as maiores e melhores realizações!