quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Mergulho no Verdadeiro Ser

O encontro consigo mesmo numa visão Transpessoal


   A sociedade em que vivemos está se tornando cada vez mais adoecedora. É uma sociedade normótica, desequilibrada, na qual a norma é fingirmos que somos normais. Todos são felizes, todos são ricos, todos são realizados... mas será que se trata de felicidade e realização verdadeiras? A verdadeira realização está em viver além das máscaras e fingimentos, está em para de mentir para si mesmo somente para agradar os outros, se adaptar, ser "normal", ou, numa visão transpessoal, ser normótico. Saúde mesmo é viver em plenitude, é viver a criatividade de fazer de cada momento de nossas vidas uma obra de arte, na qual nos deslumbramos com o grande mistério da existência. Agora vamos a alguns pontos da Psicologia Transpessoal que são importantes de abordar para esclarecermos estas questões....


NORMOSE – A PATOLOGIA DA NORMALIDADE

Pierre Weil define normose como “um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou pela maioria em determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte.” (Weil, 2003, p. 22). Podemos dizer, então, que ao falar de normose estamos lidando com um estado patológico onde são seguidas as normas introjetadas pela sociedade mesmo que elas conduzam ao sofrimento e à enfermidade, constituindo, portanto, uma normalidade doentia.
Quando há um estabelecimento de um hábito de pensar, sentir ou agir; quando há um comportamento executado por ser aceito por consenso social; quando há nesse comportamento uma natureza patogênica ou letal e se ele tiver gênese pessoal ou coletiva, mediante processo introjetivo, temos caracterizado um comportamento normótico.
Jean-Yves Leloup pontua que a normose é capaz de gerar sofrimento, como ocorre na neurose e na psicose. “É ela que nos impede de sermos realmente nós mesmos.” (Leloup apud Weil, 2003, p. 25). Ele agrega, então, à discussão, dois novos conceitos, o de pléroma, definido como desejo do Aberto, total presença ou plenitude, e o de kénosis, medo do Aberto, total vacuidade, aniquilamento ou dissolução do ego. A existência do homem, assim, desenvolver-se-ia por meio dos desejos e dos medos, e as transformações ocorreriam quando o desejo de pléroma vence o medo de kénosis. Em nosso processo de transformação, devemos integrar os vários níveis de consciência e, a cada passagem, a cada entrada em um novo estado de consciência, encontramo-nos diante do desejo de pléroma e do medo de kénosis.
Se a resistência diante do Aberto se manifestar na forma de terror, segundo Leloup, temos caracterizada a psicose. Se ela tomar forma de ansiedade e angústia diante do Aberto, temos a neurose. Se tivermos medo diante do Aberto, temos a normose. Na normose, é necessário ser como os outros, agradar, e não há espaço para o próprio desejo, para o próprio ser. É na normose que o ter ultrapassa o ser, e a aparência torna-se imperativo, em detrimento da essência. Leloup ressalta, porém, que se não cumprirmos o que nos pede nossa formação criativa, sem acessarmos nosso próprio pensar, nosso próprio desejo, nosso próprio criar, adoecemos, pois o eu sucumbe diante do conformismo.
Leloup aprecia, então, aspectos do que ele define como chamado do Self, que podemos sentir no interior de cada um de nós. Ele pontua que “existe algo maior do que nós. Algo mais inteligente e mais amoroso do que nós” (Weil, 2003, p. 31), que seria o Self. Podemos, porém, retroceder diante da própria grandeza, da dimensão espiritual do Ser, o que é chamado complexo de Jonas. Temos o dever de nos libertar destes medos para escutar nosso desejo mais íntimo, seguir nosso caminho passando de um plano de consciência para outro, rumo à identidade do puro EU SOU, à união com o Ser que habita dentro de nós.
Podemos pontuar, finalmente, que amplas transformações no plano social poderiam ser vislumbradas com a perspectiva da cura da normose. Às instituições sociais de controle, seja de caráter religioso seja político, nos questionamos se apoiariam a promoção de um pensamento que nos torna livres de suas regras para sermos o que realmente somos. Ao plano da psicoterapia, nós acreditamos que seria possível potencializar as transformações da consciência de cada um no sentido de realização destes íntimos desejos, destes chamados, promovendo a cura, que seria como um direcionamento para a plenitude, para a pura consciência do Ser. Como afirmara Jung, “somente aquilo que somos tem o poder de curar-nos” (Jung, 2008b, p.43). 

CONCLUINDO...

Para além de viver os jogos do ego, das aparências e ilusões desta sociedade adoecedora, somos todos convidados a fazer de nossa passagem pela terra uma obra de arte, de amor, de aprendizado. E isto inclui aceitar e integrar tudo o que nos acontece, de bom e de ruim, pois cada situação é nossa mestra, cada irmão é nosso mestre. A jornada de autodescoberta é, ao mesmo tempo, uma jornada de realização (tornar real) e de criação de nosso Ser, e cada um de nós tem a missão de deixar sua marca única com sua passagem, pois somos todos esplêndidas expressões deste infinto oceano de amor, parte da grande teia da vida!



"APAIXONAR-SE por Deus é o maior dos romances; PROCURÁ-LO, a maior aventura; ENCONTRÁ-LO a maior de todas as REALIZAÇÕES". (Santo Agostinho).



Então finalizamos com este exercício de imaginação: respire fundo agora, tente relaxar e soltar as tenções na expiração, e tomando três ou quatro inspirações profundas... imagine uma luz, a luz do seu verdadeiro ser, percorrendo todo o seu corpo... Imagine esta luz bem mais forte, respirando mais fundo, na região do seu coração... Esta linda luz conecta você novamente com seu ser mais profundo, com sua essência mais amorosa ou espiritual, ou sua inteligencia mais profunda... O importante é usar o termo ou a compreensão que seja mais confortável para você. E cada vez você respira mais e mais fundo, vivenciando um mergulho no seu Verdadeiro Ser... Respire cada vez mais fundo e se pergunte:  o que Deus, em meu interior, o que o Amor Infinito, o que a Vida viva ou a Inteligência Infinita me entregou como dons para que eu possa desenvolver aqui nesta experiência de vida? Qual é meu caminho de realização neste momento? Como posso expressar e viver o amor de modo mais e mais profundo, mais e mais verdadeiro? Como posso encontrar-me mais verdadeiramente comigo mesmo, comigo mesma? Para quem gostar da ideia de viver a sinceridade consigo, espero que sejam vivas e verdadeiras as suas respostas...

Fica aqui o convite para você ser aquela pessoa que você realmente pode ser e sonha ser, aceitando o agora e abraçando seu caminho de realização!






Referências:

JUNG, C. G. O Eu e o Inconsciente. Obras Psicológicas Completas Vol. VII/2. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

WEIL, Pierre. Normose: a patologia da normalidade / Pierre Weil, Jean-Yves Leloup, Roberto Crema. – Campinas, SP: Verus Editora, 2003. 

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