A EXPERIÊNCIA MÍSTICA
E A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL:
O ÊXTASE SOB A ÓTICA DE PIERRE WEIL
Pierre
Weil e a Psicologia Transpessoal
Hoje trabalharemos com as
contribuições do autor Pierre Weil. Ele é Frances naturalizado brasileiro e
trabalhou até a metade de sua vida na Psicologia organizacional. Daí ele mesmo
disse que, um dia, chegou a determinado ponto de sua vida que estava completamente
insatisfeito com o que estava vivendo e com o que estava estudando, até que,
por uma série de múltiplas coincidências significativas ele foi levado a
procurar um sentido mais elevado, ao mesmo tempo mais profundo, para o que
estava fazendo de sua vida, o que o levou a fazer a passagem da organizacional
para a Psicologia Transpessoal. Ele ocupou e ocupa um lugar de destaque, haja
vista ter ele trazido a Psicologia Transpessoal para o Brasil com bastante
força, através da sua vasta publicação e da instituição Universidade da Paz,
UNIPAZ, na qual reuniu em torno dele vários continuadores, colaboradores e
divulgadores, grandes nomes da Transpessoal no Brasil, dentre eles merecendo
destaque o francês Jean Yves Leloup e o brasileiro Roberto Crema.
O texto “Antologia do Êxtase” que trabalharemos é
muito interessante, pois nele encontramos um primeiro delineamento teórico,
falando sobre êxtase, sobre consciência e sobre espiritualidade, mas também
podemos encontrar uma série de relatos de experiências de místicos, buscadores
e seres humanos iluminados de várias tradições da humanidade, pessoas que
atingiram diversos níveis de experiências de realização espiritual, o que foi
publicado na forma de antologia, uma coletânea que nos ajuda a compreender o
que é a experiência transpessoal.
Pierre Weil trás, a
princípio, o casamento da ciência moderna com as perspectivas espirituais,
citando a Declaração de Veneza. Olhando superficialmente, ciência e tradição
espiritual são opostos, e os baluartes da academia científica tradicional negam
o lugar da tradição, negam o lugar da espiritualidade como uma forma ou caminho
de conhecimento válido. Quando aprofundamos nossa visão, no entanto, percebemos
muito mais a complementaridade entre os caminhos da ciência e da espiritualidade.
O autor cita também o gigante Abraham Maslow, fundador da Psicologia Humanista
e da Psicologia Transpessoal, o qual falava da necessidade de pensarmos as
experiências de pico como dados científicos, o que incluiria a necessidade de
aprendermos a estimular as intuições e visões das experiências culminantes para
podermos submetê-las aos métodos experimentais, o que sem dúvida é importante,
mas, o que é mais importante, a nosso ver, é a promoção de uma visão mais ampla
de cura e de saúde.
Estados
e Estágios de Consciência
Outro autor que
gostaríamos de acrescentar neste momento, apenas para acrescentar mais um
detalhe a esta rica discussão, é Ken Wilber. Em vários livros, por exemplo em
seu “A Visão integral”, ele
diferencia para nós os estados de consciência e os estágios de consciência. Os
estados de consciência seriam transitórios, as experiências de pico das quais
falava Maslow, no entanto eles são muito importantes no sentido de indicar o
que há na outra margem do rio, o que nos espera na consciência ampliada. São
momentos de vislumbre dos mais elevados potenciais da consciência. Já os
estágios de consciência trariam a noção do patamar evolutivo na qual
determinada consciência estaria. Assim, uma experiência culminante de um estado
de consciência mais elevado teria sua interpretação diferente para cada estágio
de consciência em que estaria aquele que a experimenta. Podemos ter estados de
consciência ampliados com diversas técnicas, mas devemos nos ocupar em avançar
nos estágios de consciência, evoluindo em termos de espiritualidade, de
relacionamento amoroso, de abertura para o sagrado.
Ainda em “A Visão Integral”, Ken Wilber nos chama
a atenção para o que ele aponta como a falácia pré-pós. Ela acontece porque
quando falamos dos níveis mais leevados de consciência, podemos ter, a
princípio, a falsa impressão de que eles são um retorno aos níveis mais
primitivos de consciência, como a visão de mundo mágica dos humanos ancestrais
e das crianças. No entanto, eles estariam em níveis pré-pessoais, enquanto que
nos níveis pós-pessoais, transpessoais, há uma consciência diferenciada, mais
ampla, mais abrangente, capaz de integrar os níveis pessoais e de ir além, os
transcendendo. No taoismo expressa-se isso ao comparar a virtude do sábio com
os desvarios de um tolo. A proposta da Psicologia Transpessoal, portanto, não é
a de fazer a humanidade retroceder a níveis ancestrais ou arcaicos, mas sim promovemos
a ideia do avançar a um novo estágio coletivo de consciência, mais amplo, mais
integrado à natureza e ao cosmos.
Diferenças
e aproximações entre Físicos e Místicos
Traremos para a discussão
a contribuição de um dos pioneiros do campo Transpessoal e também da
Parapsicologia, Lawrence LeShan, de seu livro “Physicists and mystics: similarities in world view” (apud Weil,
1992) . Ele realizou um teste
misturando frases pronunciadas por físicos de renome e místicos que tiveram
diversas experiências Transpessoais. Trazemos alguns exemplos:
1.
“(...) percebemos, cada vez mais, que nossa
compreensão da natureza não pode partir de qualquer conhecimento definido; que
ela não pode estar edificada sobre uma fundação rochosa, mas que todo
conhecimento se encontra, por assim dizer, suspenso sobre um abismo infinito.
2.
Toda tentativa de resolver as leis da
causalidade, do tempo e do espaço será vã, uma vez que tal tentativa só poderia
ser feita pressupondo que a existência destes três fatores fosse garantida.
3.
Ao buscar compreender o continuum
quadridimensional, é preciso um esforço no sentido de evitar uma
conceitualização em termos sensoriais ou corporais. Ele não pode ser
representado dessa forma, pois as imagens desse tipo são falsas e enganosas.
4.
Se retirarmos o conceito de absoluto do
espaço e do tempo, isso não significa que o absoluto tenha sido banido da
existência, mas, de preferência, que foi identificado com alguma coisa mais
específica... essa coisa fundamental é o um sem segundo (múltiplo
quadridimensional).
5.
A realidade última é unificada, impessoal,
e pode ser captada se a buscarmos de forma impessoal, para além dos dados
fornecidos por nossos sentidos.
6.
Quando se busca a harmonia na vida, jamais
se pode esquecer que nós próprios somos, ao mesmo tempo, atores e espectadores.
No presente teste
elaborado por Lawrence LeShan tomamos consciência da dificuldade que é
diferenciar a visão de mundo que está sendo apontada pelas descobertas da
Física Moderna e a visão dos místicos de diversas tradições. Diferenciar os
discursos sem olhar o nome dos autores torna muito complicado para
distinguirmos quem é místico e que é físico o que corrobora com a tese de
Fritjof Capra, em seu “O Tao da Física”,
da comum unidade que forma a visão da espiritualidade tradicional e da ciência
embasada nas mais modernas descobertas do campo quântico de conhecimento. A
propósito, os autores são em ordem: Albert Einstein, Vivekananda, Santo
Agostinho, Max Planc, um preceito da doutrina do sufismo e Niels Bohr. O leitor
pode ter uma ideia da complexidade do teste, composto ao todo por sessenta e
duas frases. O próprio elétron é composto por onda e por partícula, e então
questionamos como pode haver a crença pseudocientífica de que tudo é material.
A realidade na qual vivemos é uma realidade energética e espiritual. É no
caminho do autoconhecimento espiritual que podemos encontrar as respostas de
nossas crises civilizacionais e aprender a viver com mais plenitude de Ser, com
mais abundância de Vida, vibrando nas mais elevadas frequências, em consonância
com a energia do Amor.
Psicologia
Transpessoal e plenitude de Ser
Neste contexto, surge um
novo ramo de Psicologia, a Psicologia Transpessoal. Segundo Pierre Weil, Maslow
descobriu, por exemplo, que ao menos 70% de seus estudantes já haviam passado,
ao menos uma vez, por uma experiência de pico, as quais os levou a descobrir os
valores do Ser, tais como amor, beleza, integridade, a totalidade e a
plenitude. É importante ressaltarmos que, no mundo em que estamos hoje, o
consumismo é confundido com a plenitude, você estará pleno quando obtiver este
ou aquele produto, e se você não o tem e todos o possuem, você está fora dos
círculos sociais. Plenitude para a Psicologia Transpessoal não está ligada ao
ter, mas sim ao Ser, à descoberta dos caminhos que nos levariam a realizar
níveis mais elevados de nosso verdadeiro Ser. Maslow nos ensina que a busca
pelo Ser é aspiração normal e saudável de todo ser humano. A privação desta
dimensão, tão comum na sociedade atual, nos torna adoecidos tanto quando a
ausência dos nutrientes essenciais em uma dieta. O Verdadeiro Ser que somos
todos somente pode ser nutrido através dos laços de amor.
É preciso destacar que os
santos ou místicos não obtiveram suas experiências místicas por serem
considerados santos ou místicos a priori. O que aconteceu foi que eles seguiram
metodologias de busca do conhecimento de si mesmo, e a partir daí obtiveram
experiências que ampliaram suas visões de mundo e suas conexões com a
realidade. Precisamos descartar a ideia de que estas experiências pertencem a
um passado distante da nossa realidade e aprender que se nós também nos
submetermos às tecnologias do sagrado, nós também teremos experiências místicas
semelhantes, vivenciando os de estados ampliados de consciência, os quais
ampliarão nossa visão e nosso modo de pertencer à realidade e ao universo,
percebendo nossa realidade em uma profundidade maior do que a conseguimos em
nossa consciência do ego e do corpo comum, material. A meta é que possamos
viver mais amplamente nossa própria vida, com mais consciência e plenitude, com
mais espiritualidade traduzida na forma de realização do amor.
Estados
de Consciência e as frequências de ondas cerebrais
Em outro texto, “Transcomunicação: O Fenômeno Magenta”,
Pierre Weil (2003) nos trás a importante compreensão da relação entre as
diferentes frequências de ondas cerebrais e os níveis nos quais ocorrem os
fenômenos da consciência ampliada, fazendo ainda uma interpretação em suas
pesquisas sobre a paranormalidade. Ele aponta primeiramente a nossa consciência
em vigília, correspondendo às frequências de ondas beta(13 a 21 ciclos por
segundo), onde dificilmente poderemos encontrar fenômenos paranormais ou
transpessoais ocorrendo; quando entramos em um estado sonolento, conhecido
pelas frequências de onda alfa(7 a 12 ciclos por segundo), a consciência comum
inicia a entrar em relaxamento e a imaginação ganha força, o que possibilita a
emergência das primeiras manifestações para além da realidade comum, como
alguns fenômenos da hipnose e dos sonhos; estas manifestações são
intensificadas nas ondas teta(4 a 7 ciclos por segundo), onde ocorrem os
grandes sonhos, a hipnose profunda, regressões a vidas passadas, fenômenos de
traslocalidade e transtemporalidade, fenômenos paranormais ou fenômenos PSI,
além de muitos outros. Podemos ainda alcançar um estado profundo de frequência
chamado delta(0,1 a 4 ciclos por segundo), onde ocorre o sono profundo e a consciência
está no espaço ao qual os tibetanos chamam de Clara Luz, a luz do espírito.
Nos primeiros anos de
meditação e práticas espirituais, conseguimos atingir a frequência alfa de
consciência. Os estudos do autor mostram que ao longo do tempo a tendência é
que meditadores consigam alcançar espontaneamente os níveis mais profundos,
chegando aos níveis teta e delta com cerca de vinte a quarenta anos de prática
de meditação. No estado de superconsciência transpessoal, atinge-se a
consciência delta, de sono profundo, contudo estando o praticante espiritual
completamente desperto, como revelaram estudos feitos com yogues em estado de
samadhi, o que leva à conclusão de estarmos falando de um estado misto e que
engloba todos os outros estados. Além da superconsciência, os praticantes
espirituais neste nível são a manifestação de amor verdadeiro e sabedoria
infinita para além dos limites que conhecemos, além do ego.
Ressaltamos que poderosas
curas podem ser realizadas com técnicas de psicoterapia experiencial que
produzam ou facilitem estes estados de elevada conscientização, como a
constelação familiar, o renascimento, a respiração holotrópica, a hipnose, as
terapias regressivas e muitas outras vias. Além disso, segundo Pierre Weil
(1992) estados de consciência ampliada podem ser atingidos com diversas
disciplinas espirituais, meditações e oração, cantos e danças, algumas artes
marciais pacíficas, métodos respiratórios, a transmutação energética do tantra,
diversas formas de yoga, dentre muitos outros caminhos. O objetivo central,
defendemos, é que possamos conseguir reestabelecer o natural fluxo de amor, que
foi se perdendo ao longo de nosso processo de crescimento numa sociedade
egocêntrica e que deslegitima a existência da consciência expandida e seus
fenômenos. A nosso modo de ver, porém, é somente na consciência expandida, na
medida em que nos conectamos com nosso Verdadeiro Ser e nos descobrimos
conectados com todo o cosmos, é que podemos experienciar os mais elevados
níveis de amor. O amor é, em nossa definição, o mais elevado estado de
consciência transpessoal.
Características
das experiências transpessoais
As vivencias
transpessoais, atingidas pelos místicos das diversas tradições espirituais
assim como por pessoas que vivenciaram os estados ampliados de consciência nas
modernas buscas através de técnicas terapêuticas experienciais, podem ter
características classificas e agrupadas através de diversos fatores, os quais
podem ocorrer simultaneamente os em separado, sendo mais comum que várias delas
apareçam em uma mesma experiência.
Pierre Weil (1992) aponta
a transcendência do tempo e do espaço, a vivência de um luz intensa, o caráter
inefável, intraduzível em palavras, a dissolução de dualidades como sujeito e
objeto, interior e exterior, verdadeiro e falso, realidade e imaginação; podem
ocorrer também manifestações parapsicológicas, modernamente conhecidas como
fenômenos PSI, como clarividência, telepatia, psicocinese e experiências fora
do corpo dentre outras. São possíveis também vivências regressivas de etapas
passadas da vida, da vida intrauterina e até de vidas passadas, memórias de
ancestrais, dentre outras; perda do medo da morte; mudanças nos sistemas de
valores e comportamentos; convicção de haver experimentado a realidade tal como
ela é, como se a verdadeira realidade houvesse sido tocada.
Em nossas buscas pessoais
e participação em diversas formas de terapias experiências como sessões de
hipnose, constelação, renascimento e regressões, nós presenciamos colegas
vivenciando e até mesmo chegamos a vivencias diversos fenômenos como memórias
de infância, memórias intrauterinas, vivências de vidas passadas, contatos com
guias espirituais, contatos com animais de poder, experiências com elementos da
natureza com fogo, água, terra, ar, experiências de curas ancestrais, vivências
de fenômenos paranormais como telepatia e viagens fora do corpo, experiências
com seres de outros níveis de realidade os quais acreditávamos que somente
existissem na fantasia humana, além de várias experiências de conexão e
consciência cósmica no qual todo o universo apareceu a nós como um Oceano de
Amor, no qual estamos todos emersos.
Pierre Weil fala ainda de
experiências como a do Místico são Francisco de Assis.
...
Daí por poucos dias, estando São Francisco ao lado da dita cela e considerando
a disposição do monte, e maravilhando-se das grandes fendas e aberturas de
rochedos grandíssimos, pôs-se em oração; e então lhe foi revelado por Deus que
aquelas fendas tão maravilhosas tinham sido feitas miraculosamente na hora da
Paixão de Cristo quando, conforme o que disse o evangelista, as pedras se
espedaçaram. E isto quis Deus que singularmente aparecesse sobre o monte
Alverne, para significar que nesse monte se devia renovar a Paixão de Nosso
Senhor Jesus Cristo na sua alma, pelo amor e a compaixão, e, no seu corpo, pela
impressão dos estigmas. Tendo tido São Francisco esta revelação imediatamente
se encerrou na cela e todo se recolheu em si mesmo, e dispôs-se a compreender o
mistério desta revelação. E doravante, São Francisco pela continua oração
começou a saborear mais frequentemente a doçura da contemplação; pela
qual ele muitas vezes ficava tão arroubado em Deus, que corporalmente era visto
pelos irmãos elevado da terra e arrebatado fora de si.
...
Pela qual coisa frei Leão, maravilhando-se muitíssimo, levantou os olhos e
olhou o céu, e olhando viu vir do céu uma chama de fogo belíssima e
esplendíssima, a qual, descendo, pousou na cabeça de São Francisco, e da dita
chama ouviu sair uma voz a qual falava com São Francisco; mas frei Leão não
entendia as palavras.
...
Cristo, o qual aparecia, falou a São Francisco certas coisas secretas e altas
as quais São Francisco jamais em vida quis revelar a ninguém, mas depois de sua
vida as revelou segundo se demonstra adiante, e as palavras foram estas: Sabes
tu, disse Cristo, o que fiz? Dei-te os estigmas que são o sinal de minha
Paixão, a fim de que sejas meu gonfaloneiro.
...
e assim paruciam as mãos e os pés pregados no meio com cravos parecendo
recurvos e rebatidos, de modo que entre a curvatura e o rebite ... facilmente
se poderia meter o dedo da mão como num anel ...
... Semelhantemente, no lado direito,
apareceu a imagem de uma ferida de lança ..., a qual depois muitas vezes ...
ensangüentava-lhe a túnica e o pano das bragas.
Como vemos, nesta
experiência de São Francisco citada por Pierre Weil, o êxtase da experiência
mística fez Francisco calar-se, por não conseguir expressá-la em palavras, e,
quando falou, somente algumas partes de seu testemunho, associado à presença do
Cristo, puderam ser reveladas. Luzes como fogo o cercavam e marcas em seu
próprio corpo, semelhantes às marcas do Cristo, apareceram como sinais de sua
experiência profundamente espiritual de níveis mais elevados da realidade. Vale
lembrar a grande integração de São Francisco com a natureza, seu modo de
experimentar tudo o que existe como sendo seu irmão ou irmã, como o irmão sol,
a irmã lua e os irmãos animais, com os quais coversava. É impressionante a
semelhança com a experiência da culturas nativas tradicionais que entraram em
relação com tudo, vendo tudo o que existe como portador de consciência e de
vida.
A expoente autora da
Tanatologia, Elisabeth Kübler-Ross (2012), ao falar de experiências de quase
morte em seu livro “O Túnel e a Luz”, conta aexperiencia daqueles que foram
declarados clinicamente mortos mas que voltaram à vida. Muitos apresentam
estórias com um padrão de regularidade espantoso que pode ser interpretado como
uma possibilidade simbólica de compreensão da realidade que nos espera para
além da morte física. Ainda que não possam ser utilizadas como uma prova da
existência da vida além da vida, as EQM são uma importante fonte de estudos da
experiência transpessoal, bem como um fonte de maravilhosa reflexão sobre o
viver e sobre o morrer.
“Depois
de nos encontrarmos com aqueles que amamos e com nossos próprios guias ou anjos
da guarda, passamos por uma transição simbólica, frequentemente descrita na
forma de um túnel, de um rio ou de um portal. (...) Depois de passarmos por
essa forma de transição muito bonita e individualmente apropriada, chamada de
túnel, aproximamo-nos de uma fonte de luz que muitos de nossos pacientes
descrevem e que eu mesma vivenciei na forma de uma experiência transformadora
da vida, incrivelmente bela e inesquecível, chamada consciência cósmica.”
A presença dessa luz é
atribuída muitas vezes a seres espirituais como anjos, Cristo ou mesmo Deus, e
em tradições orientais pode ser identificada como a Clara Luz da consciência de
Buda. Depois da experiência com esta Luz de amor incondicional, uma revisão da vida
se processa, e as pessoas voltam da EQM com seus valores modificados, afirmando
que o mais importante na vida é o aprendizado e o amor.
Por
uma visão holística da realidade
Para Pierre Weil, a
mudança de paradigma científico que estamos vivendo nos dias de hoje deve ser
acompanhada por um movimento holístico de caráter transdiciplinar e
transreligioso. Nesse sentido, acreditamos e investimos na via da Psicologia
Transpessoal por acreditarmos que ela fornece uma nova visão de realidade na
qual a totalidade do Humano está sendo levada em consideração, incluindo os
aspectos espirituais do seu Ser sem patologizá-los como faz a moderna tradição
científica com bases positivistas. Não que a patologia não exista, ela existe
sim, mas as experiências espirituais de místicos e sensitivos, além das
experiências de cura da consciência ampliada não podem mais ser suprimidas com
psicoinibidores e sim devem ser elaboradas em contextos adequados com
terapeutas amorosos e bem treinados.
Acreditamos no ser humano
espiritual, capaz de viver experiências transpessoais para além da realidade
centradas nos medos do eu e sim transcentrada ou centrada em níveis que buscam
a totalidade do Ser, em níveis mais elevados de amor, de plenitude e de
abundância de vida. Este ser humano está conectado em todos os níveis com a
realidade física e energética na qual está inserido ou, em outras palavras, não
existe separação entre humano e cosmos, o ser humano e o universo formam uma
totalidade em forma de campo e cabe a cada um de nós escolher, dentre os
diversos níveis de energia deste campo, com quais queremos nos sintonizar.
Vivemos em uma sociedade
doente e com diversas crises que não podem ser resolvids senão em um nível de
consciência coletiva mais elevado. A doença coletiva é responsabilidade de cada
um de nós, e ela é mantida quando escolhemos o medo, o apego e o ego. Saúde e
cura são escolha nossa, na medida em que escolhemos caminhar para descortinar o
véu que nos oculta nosso Verdadeiro Ser. O autoconhecimento é a chave, na medida
em que embarcamos em uma viagem que somente diz respeito a cada um de nós, uma
viagem em busca de cura para nós mesmos que nos trás novas formas de nos
relacionar com o universo ao nosso redor, curando também a nossos semelhantes.
Assim, defendemos que poderemos abrir nossos corações e nossas mentes para
experimentar os níveis mais levados do transpessoal amor que habita em nosso
íntimo e espera que o despertemos, pois amor é o que somos.
Referências
CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 2008.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. O Túnel e a Luz: reflexões essenciais sobre
a vida e a morte. Campinas, SP: Verus Editora, 2012.
PIRES, Rogério. Ondas Cerebrais. Artigo disponível em: http://www.psicoterapiaholistica.org/biblioteca/Ondas%20Cerebrais.pdf.
Acesso em 21/10/12 às 16h40min.
WEIL, Pierre. Antologia do Êxtase. São Paulo: Editora
Palas Athena, 1992.
_______(et al). Transcomunicação: o fenômeno magenta. São Paulo: Cultrix, 2003.
WILBER, Ken. A Visão Integral. São Paulo: Cultrix,
2010.