Quando falamos em Visão Holística, fazemos referência o livro de Pierre Weil "Holística, uma nova visão abordagem do real" (s.d.). Pierre Weil nos trás neste belo texto a visão holística, a experiência holística, e o movimento holístico. A busca é a de cultivar o encontro da ciência e da tradições espirituais da humanidade, buscando dar novos passos no sentido de trazer para o meio científico a luz de uma perspectiva transpessoal, de estados ampliados de consciência até à plena consciência, à espiritualidade, às potencialidades últimas do ser humano e sua conexão com o além do humano, a vida viva e o universo infinito, numa dança de celebração com as estrelas e todo o cosmos. O ser humano nesta visão holística seria um pontifex, um construtor de pontes, desperto, de mente inclusiva, capaz de lançar pontes sobre a consciência e o coração humano.
Na visão de ser humano elaborada pelo novo paradigma holístico, teríamos uma ampla gama de consequências sociais. Em seu livro “Pertencendo ao Universo”, Fritjof Capra comenta que as ciências de relevância social, como a Medicina, a Psicologia, a Pedagogia, a Economia, e, incluímos, a Bioética, têm por desafio resolver graves problemas da sociedade, e, para ele, “somente um tipo de ciência baseado no novo paradigma será capaz de resolvê-los”. (Capra 2006b, p.149) Capra trás, então, a discussão de uma espiritualidade com responsabilidade social, onde ele diz que a espiritualidade tem de fluir para dentro de nossas vidas cotidianas. Com uma base de sustentação na espiritualidade, a Medicina talvez pudesse encarar a saúde como uma totalidade de mente e de corpo, a Economia pensaria na sociedade inextricavelmente ligada à sustentabilidade ecológica, a Psicologia teria sua atuação pautada em novas práticas, consoante uma visão mais ampla do humano, e a Pedagogia pautaria sua educação em novos valores. Aponto Capra como citação quando ele diz:
“A mudança de visão de mundo que está ocorrendo atualmente terá de incluir uma profunda mudança de valores; na verdade, uma completa mudança de sentimentos – da intenção de dominar e de controlar a natureza para uma atitude de cooperação e de não violência. Essa atitude é profundamente ecológica, e não surpreende que seja o comportamento característico das tradições espiritualistas. Os sábios chineses de antigamente expressavam-na maravilhosamente: “Aqueles que seguem a ordem natural fluem na corrente do Tao”. ‘ (Capra 2006a, p.248)
Podemos apontar que estudar uma perspectiva do humano que seja holística, que abranja o biopsicossocial e também a espiritualidade, significa dar um sentido para a morte e para a vida, aprender a morrer e a viver, aprender a transformar e transformar-se, renascendo como um ser cada vez mais preocupado em ajudar, curar, libertar e iluminar a si mesmo e a outros seres, fazendo com que cada um tome as rédeas de sua jornada de crescimento da consciência e de desenvolvimento e realização espiritual.
Levando um novo paradigma holístico em consideração, estaremos realizando uma abertura novos caminhos de cura. Cura será vista como transformação, evolução da consciência, como realização do nosso ser mais profundo, do nosso ser espiritual (cf. Grof, 1997). Estaremos fazendo com que nossa sociedade supere a perda de valores e ascenda em sua caminhada em direção a um maior contato com a totalidade de tudo o que é vivo. Estaremos fazendo com que saúde e doença se transformem em uma busca por harmonia e equilíbrio e que cura se transforme em cultivo das potencialidades mais profundas de nossa alma. Cura, segundo Grof, é um movimento natural em direção à nossa totalidade, ao ser mais amplo, ao Ser numa visão holística.
Uma ética do cuidado
De acordo com o teólogo Leonardo Boff (1999, p.133) nosso planeta Terra merece ser cuidado de modo especial, pois temos unicamente a ele para viver e para habitar. Porém, devido ao assalto predatório do processo industrialista dos últimos duzentos ou trezentos anos, estamos à beira de um colapso ambiental. E ainda pisamos no acelerador. “Para cuidarmos de nosso planeta precisamos todos passar por uma alfabetização ecológica” - afirma BOFF, “e rever nossos hábitos de consumo”. Para ele, o velho paradigma, abraçado pelas nações imperialistas, estaria na raiz do problema. “Importa desenvolver uma ética do cuidado”, conclui.
No plano individual, uma ética do cuidado nos indica que cada um de nós procure e transforme todas as normoses e patologias que nos impedem de ser o que verdadeiramente somos, e que cada um possa abraçar seu caminho de realização, sua jornada de autoconhecimento e espiritualidade, no sentido de encontro com seu verdadeiro Ser. No plano coletivo, a ética do cuidar aponta para que esperemos uma revolução paradigmática que transforme nossa maneira de nos relacionar com nosso planeta e com a natureza, com tudo o que é vivo.
A grande transformação paradigmática que é exigida de nós não pode ser feita somente individualmente, senão coletivamente, e, no entanto, é preciso que cada um possa cultivar uma nova disposição de consciência, promovendo novos valores mais adaptados com este momento de nossa jornada evolutiva coletiva. É preciso que busquemos nosso verdadeiro SER mais profundo, cuidar deste Ser que habita em nós, cuidar da natureza fora e dentro de nós, pois nós somos a natureza. Esse deve ser, para nós, o espírito de uma reflexão em uma busca do despertar para uma visão holística. Somente assim poderemos viver a verdadeira vida. Somente assim poderemos criar um mundo novo.
Ser Terapeuta
As Terapias Integrativas e Complementares são uma busca de retomar o antigo equilíbrio que havia entre o humano e a natureza, situação esta que foi quebrada na medida em que avançamos cientificamente e tecnologicamente, o que trouxe, para a área de saúde e biomédica, significativos avanços, porém estes com a limitação de terem como foco apenas o prolongamento da vida, com enfoque nas questões biológicas, esquecendo ou não considerando as questões relativas à qualidade de vida e à promoção de saúde do ponto de vista psicológico, social e espiritual, ainda que nos ideais de saúde proclamados pelo nosso SUS estas dimensões de suade sejam contempladas.
Acreditamos também que, do ponto de vista da visão Holística, se levarmos em consideração a dimensão espiritual, levando em consideração pesquisas como as de Grof, as de Capra, as de Maslow, as da Unipaz de Pierre Weil, dentre outros, poderemos dar grandes passos, avançando na discussão do que é o Ser humano e de sua conexão com tudo o que é vivo. O ser humano tem o papel de ser um canal da energia da vida, de cuidar da vida. O ser humano deve aprender a ética do cuidado, como nos aponta Leonardo Boff. Somente assim, acreditamos, poderemos nos considerar em sintonia com a vida e suas aspirações mais elevadas.
Grande parte do nosso sofrimento, cremos, é derivado da perspectiva de homem e de mundo que nossa sociedade proclama como a verdadeira e, pior que isso, como a última verdade, que é o homem materialista, autodeterminado, apartado da natureza, que está com a vida sob controle, porém que não consegue sequer controlar ou conhecer a si mesmo, ou, talvez o melhor seria apontar, não consegue compreender a si mesmo e estar em harmonia com sua existência.
Nossa atuação, ao escolher ser terapeuta, além do ponto de vista prático e político, que, por um lado, visa resistência contra o modelo vigente de ciência biomédica e, por outro, busca o ganho de territórios e a afirmação de novos modelos mais holísticos de promoção e prevenção em saúde, deve também promover, para que seja bem sucedida, uma visão de homem e de mundo que seja diferenciada da atual visão, do homem como mão-de-obra e consumidor, para uma visão do humano que busque sua natureza de criador e transformador de sua própria existência, além de responsável pelo equilíbrio entre ele mesmo, as comunidades e o meio-ambiente no qual ele está inserido.
Nós somos o nosso mundo, nós somos um espírito infinito e nossos corpos são templos, nós criamos nossa realidade enquanto vivemos, e somos seres cada vez mais criadores na medida em que nos conectamos com nossa verdadeira natureza, com nosso verdadeiro ser. Acreditamos que assim, cultivando uma abordagem holística, transpessoal, um novo mundo é possível.
Referências
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
CAPRA, Fritjof. O Tao da Física: um paralelo entre a física moderna e o misticismo oriental. São Paulo: Cultrix, 2006a.
_____________. Pertencendo ao Universo: explorações nas fronteiras da ciência e da espiritualidade. São Paulo: Cultrix, 2006b.
GROF, Stanislav. A aventura da autodescoberta. São Paulo: Summus, 1997.
WEIL, Pierre. Holística, uma nova visão abordagem do real. (s.d.).
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