domingo, 21 de outubro de 2012


A EXPERIÊNCIA MÍSTICA 
E A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL:

O ÊXTASE SOB A ÓTICA DE PIERRE WEIL





Pierre Weil e a Psicologia Transpessoal


Hoje trabalharemos com as contribuições do autor Pierre Weil. Ele é Frances naturalizado brasileiro e trabalhou até a metade de sua vida na Psicologia organizacional. Daí ele mesmo disse que, um dia, chegou a determinado ponto de sua vida que estava completamente insatisfeito com o que estava vivendo e com o que estava estudando, até que, por uma série de múltiplas coincidências significativas ele foi levado a procurar um sentido mais elevado, ao mesmo tempo mais profundo, para o que estava fazendo de sua vida, o que o levou a fazer a passagem da organizacional para a Psicologia Transpessoal. Ele ocupou e ocupa um lugar de destaque, haja vista ter ele trazido a Psicologia Transpessoal para o Brasil com bastante força, através da sua vasta publicação e da instituição Universidade da Paz, UNIPAZ, na qual reuniu em torno dele vários continuadores, colaboradores e divulgadores, grandes nomes da Transpessoal no Brasil, dentre eles merecendo destaque o francês Jean Yves Leloup e o brasileiro Roberto Crema.

O texto “Antologia do Êxtase” que trabalharemos é muito interessante, pois nele encontramos um primeiro delineamento teórico, falando sobre êxtase, sobre consciência e sobre espiritualidade, mas também podemos encontrar uma série de relatos de experiências de místicos, buscadores e seres humanos iluminados de várias tradições da humanidade, pessoas que atingiram diversos níveis de experiências de realização espiritual, o que foi publicado na forma de antologia, uma coletânea que nos ajuda a compreender o que é a experiência transpessoal.

Pierre Weil trás, a princípio, o casamento da ciência moderna com as perspectivas espirituais, citando a Declaração de Veneza. Olhando superficialmente, ciência e tradição espiritual são opostos, e os baluartes da academia científica tradicional negam o lugar da tradição, negam o lugar da espiritualidade como uma forma ou caminho de conhecimento válido. Quando aprofundamos nossa visão, no entanto, percebemos muito mais a complementaridade entre os caminhos da ciência e da espiritualidade. O autor cita também o gigante Abraham Maslow, fundador da Psicologia Humanista e da Psicologia Transpessoal, o qual falava da necessidade de pensarmos as experiências de pico como dados científicos, o que incluiria a necessidade de aprendermos a estimular as intuições e visões das experiências culminantes para podermos submetê-las aos métodos experimentais, o que sem dúvida é importante, mas, o que é mais importante, a nosso ver, é a promoção de uma visão mais ampla de cura e de saúde.



Estados e Estágios de Consciência


Outro autor que gostaríamos de acrescentar neste momento, apenas para acrescentar mais um detalhe a esta rica discussão, é Ken Wilber. Em vários livros, por exemplo em seu “A Visão integral”, ele diferencia para nós os estados de consciência e os estágios de consciência. Os estados de consciência seriam transitórios, as experiências de pico das quais falava Maslow, no entanto eles são muito importantes no sentido de indicar o que há na outra margem do rio, o que nos espera na consciência ampliada. São momentos de vislumbre dos mais elevados potenciais da consciência. Já os estágios de consciência trariam a noção do patamar evolutivo na qual determinada consciência estaria. Assim, uma experiência culminante de um estado de consciência mais elevado teria sua interpretação diferente para cada estágio de consciência em que estaria aquele que a experimenta. Podemos ter estados de consciência ampliados com diversas técnicas, mas devemos nos ocupar em avançar nos estágios de consciência, evoluindo em termos de espiritualidade, de relacionamento amoroso, de abertura para o sagrado.

Ainda em “A Visão Integral”, Ken Wilber nos chama a atenção para o que ele aponta como a falácia pré-pós. Ela acontece porque quando falamos dos níveis mais leevados de consciência, podemos ter, a princípio, a falsa impressão de que eles são um retorno aos níveis mais primitivos de consciência, como a visão de mundo mágica dos humanos ancestrais e das crianças. No entanto, eles estariam em níveis pré-pessoais, enquanto que nos níveis pós-pessoais, transpessoais, há uma consciência diferenciada, mais ampla, mais abrangente, capaz de integrar os níveis pessoais e de ir além, os transcendendo. No taoismo expressa-se isso ao comparar a virtude do sábio com os desvarios de um tolo. A proposta da Psicologia Transpessoal, portanto, não é a de fazer a humanidade retroceder a níveis ancestrais ou arcaicos, mas sim promovemos a ideia do avançar a um novo estágio coletivo de consciência, mais amplo, mais integrado à natureza e ao cosmos.



Diferenças e aproximações entre Físicos e Místicos


Traremos para a discussão a contribuição de um dos pioneiros do campo Transpessoal e também da Parapsicologia, Lawrence LeShan, de seu livro “Physicists and mystics: similarities in world view” (apud Weil, 1992) . Ele realizou um teste misturando frases pronunciadas por físicos de renome e místicos que tiveram diversas experiências Transpessoais. Trazemos alguns exemplos:

1.     “(...) percebemos, cada vez mais, que nossa compreensão da natureza não pode partir de qualquer conhecimento definido; que ela não pode estar edificada sobre uma fundação rochosa, mas que todo conhecimento se encontra, por assim dizer, suspenso sobre um abismo infinito.
2.     Toda tentativa de resolver as leis da causalidade, do tempo e do espaço será vã, uma vez que tal tentativa só poderia ser feita pressupondo que a existência destes três fatores fosse garantida.
3.     Ao buscar compreender o continuum quadridimensional, é preciso um esforço no sentido de evitar uma conceitualização em termos sensoriais ou corporais. Ele não pode ser representado dessa forma, pois as imagens desse tipo são falsas e enganosas.
4.     Se retirarmos o conceito de absoluto do espaço e do tempo, isso não significa que o absoluto tenha sido banido da existência, mas, de preferência, que foi identificado com alguma coisa mais específica... essa coisa fundamental é o um sem segundo (múltiplo quadridimensional).
5.     A realidade última é unificada, impessoal, e pode ser captada se a buscarmos de forma impessoal, para além dos dados fornecidos por nossos sentidos.
6.     Quando se busca a harmonia na vida, jamais se pode esquecer que nós próprios somos, ao mesmo tempo, atores e espectadores.


No presente teste elaborado por Lawrence LeShan tomamos consciência da dificuldade que é diferenciar a visão de mundo que está sendo apontada pelas descobertas da Física Moderna e a visão dos místicos de diversas tradições. Diferenciar os discursos sem olhar o nome dos autores torna muito complicado para distinguirmos quem é místico e que é físico o que corrobora com a tese de Fritjof Capra, em seu “O Tao da Física”, da comum unidade que forma a visão da espiritualidade tradicional e da ciência embasada nas mais modernas descobertas do campo quântico de conhecimento. A propósito, os autores são em ordem: Albert Einstein, Vivekananda, Santo Agostinho, Max Planc, um preceito da doutrina do sufismo e Niels Bohr. O leitor pode ter uma ideia da complexidade do teste, composto ao todo por sessenta e duas frases. O próprio elétron é composto por onda e por partícula, e então questionamos como pode haver a crença pseudocientífica de que tudo é material. A realidade na qual vivemos é uma realidade energética e espiritual. É no caminho do autoconhecimento espiritual que podemos encontrar as respostas de nossas crises civilizacionais e aprender a viver com mais plenitude de Ser, com mais abundância de Vida, vibrando nas mais elevadas frequências, em consonância com a energia do Amor.



Psicologia Transpessoal e plenitude de Ser


Neste contexto, surge um novo ramo de Psicologia, a Psicologia Transpessoal. Segundo Pierre Weil, Maslow descobriu, por exemplo, que ao menos 70% de seus estudantes já haviam passado, ao menos uma vez, por uma experiência de pico, as quais os levou a descobrir os valores do Ser, tais como amor, beleza, integridade, a totalidade e a plenitude. É importante ressaltarmos que, no mundo em que estamos hoje, o consumismo é confundido com a plenitude, você estará pleno quando obtiver este ou aquele produto, e se você não o tem e todos o possuem, você está fora dos círculos sociais. Plenitude para a Psicologia Transpessoal não está ligada ao ter, mas sim ao Ser, à descoberta dos caminhos que nos levariam a realizar níveis mais elevados de nosso verdadeiro Ser. Maslow nos ensina que a busca pelo Ser é aspiração normal e saudável de todo ser humano. A privação desta dimensão, tão comum na sociedade atual, nos torna adoecidos tanto quando a ausência dos nutrientes essenciais em uma dieta. O Verdadeiro Ser que somos todos somente pode ser nutrido através dos laços de amor.

É preciso destacar que os santos ou místicos não obtiveram suas experiências místicas por serem considerados santos ou místicos a priori. O que aconteceu foi que eles seguiram metodologias de busca do conhecimento de si mesmo, e a partir daí obtiveram experiências que ampliaram suas visões de mundo e suas conexões com a realidade. Precisamos descartar a ideia de que estas experiências pertencem a um passado distante da nossa realidade e aprender que se nós também nos submetermos às tecnologias do sagrado, nós também teremos experiências místicas semelhantes, vivenciando os de estados ampliados de consciência, os quais ampliarão nossa visão e nosso modo de pertencer à realidade e ao universo, percebendo nossa realidade em uma profundidade maior do que a conseguimos em nossa consciência do ego e do corpo comum, material. A meta é que possamos viver mais amplamente nossa própria vida, com mais consciência e plenitude, com mais espiritualidade traduzida na forma de realização do amor.



Estados de Consciência e as frequências de ondas cerebrais


Em outro texto, “Transcomunicação: O Fenômeno Magenta”, Pierre Weil (2003) nos trás a importante compreensão da relação entre as diferentes frequências de ondas cerebrais e os níveis nos quais ocorrem os fenômenos da consciência ampliada, fazendo ainda uma interpretação em suas pesquisas sobre a paranormalidade. Ele aponta primeiramente a nossa consciência em vigília, correspondendo às frequências de ondas beta(13 a 21 ciclos por segundo), onde dificilmente poderemos encontrar fenômenos paranormais ou transpessoais ocorrendo; quando entramos em um estado sonolento, conhecido pelas frequências de onda alfa(7 a 12 ciclos por segundo), a consciência comum inicia a entrar em relaxamento e a imaginação ganha força, o que possibilita a emergência das primeiras manifestações para além da realidade comum, como alguns fenômenos da hipnose e dos sonhos; estas manifestações são intensificadas nas ondas teta(4 a 7 ciclos por segundo), onde ocorrem os grandes sonhos, a hipnose profunda, regressões a vidas passadas, fenômenos de traslocalidade e transtemporalidade, fenômenos paranormais ou fenômenos PSI, além de muitos outros. Podemos ainda alcançar um estado profundo de frequência chamado delta(0,1 a 4 ciclos por segundo), onde ocorre o sono profundo e a consciência está no espaço ao qual os tibetanos chamam de Clara Luz, a luz do espírito.

Nos primeiros anos de meditação e práticas espirituais, conseguimos atingir a frequência alfa de consciência. Os estudos do autor mostram que ao longo do tempo a tendência é que meditadores consigam alcançar espontaneamente os níveis mais profundos, chegando aos níveis teta e delta com cerca de vinte a quarenta anos de prática de meditação. No estado de superconsciência transpessoal, atinge-se a consciência delta, de sono profundo, contudo estando o praticante espiritual completamente desperto, como revelaram estudos feitos com yogues em estado de samadhi, o que leva à conclusão de estarmos falando de um estado misto e que engloba todos os outros estados. Além da superconsciência, os praticantes espirituais neste nível são a manifestação de amor verdadeiro e sabedoria infinita para além dos limites que conhecemos, além do ego.

Ressaltamos que poderosas curas podem ser realizadas com técnicas de psicoterapia experiencial que produzam ou facilitem estes estados de elevada conscientização, como a constelação familiar, o renascimento, a respiração holotrópica, a hipnose, as terapias regressivas e muitas outras vias. Além disso, segundo Pierre Weil (1992) estados de consciência ampliada podem ser atingidos com diversas disciplinas espirituais, meditações e oração, cantos e danças, algumas artes marciais pacíficas, métodos respiratórios, a transmutação energética do tantra, diversas formas de yoga, dentre muitos outros caminhos. O objetivo central, defendemos, é que possamos conseguir reestabelecer o natural fluxo de amor, que foi se perdendo ao longo de nosso processo de crescimento numa sociedade egocêntrica e que deslegitima a existência da consciência expandida e seus fenômenos. A nosso modo de ver, porém, é somente na consciência expandida, na medida em que nos conectamos com nosso Verdadeiro Ser e nos descobrimos conectados com todo o cosmos, é que podemos experienciar os mais elevados níveis de amor. O amor é, em nossa definição, o mais elevado estado de consciência transpessoal.



Características das experiências transpessoais


As vivencias transpessoais, atingidas pelos místicos das diversas tradições espirituais assim como por pessoas que vivenciaram os estados ampliados de consciência nas modernas buscas através de técnicas terapêuticas experienciais, podem ter características classificas e agrupadas através de diversos fatores, os quais podem ocorrer simultaneamente os em separado, sendo mais comum que várias delas apareçam em uma mesma experiência.

Pierre Weil (1992) aponta a transcendência do tempo e do espaço, a vivência de um luz intensa, o caráter inefável, intraduzível em palavras, a dissolução de dualidades como sujeito e objeto, interior e exterior, verdadeiro e falso, realidade e imaginação; podem ocorrer também manifestações parapsicológicas, modernamente conhecidas como fenômenos PSI, como clarividência, telepatia, psicocinese e experiências fora do corpo dentre outras. São possíveis também vivências regressivas de etapas passadas da vida, da vida intrauterina e até de vidas passadas, memórias de ancestrais, dentre outras; perda do medo da morte; mudanças nos sistemas de valores e comportamentos; convicção de haver experimentado a realidade tal como ela é, como se a verdadeira realidade houvesse sido tocada.

Em nossas buscas pessoais e participação em diversas formas de terapias experiências como sessões de hipnose, constelação, renascimento e regressões, nós presenciamos colegas vivenciando e até mesmo chegamos a vivencias diversos fenômenos como memórias de infância, memórias intrauterinas, vivências de vidas passadas, contatos com guias espirituais, contatos com animais de poder, experiências com elementos da natureza com fogo, água, terra, ar, experiências de curas ancestrais, vivências de fenômenos paranormais como telepatia e viagens fora do corpo, experiências com seres de outros níveis de realidade os quais acreditávamos que somente existissem na fantasia humana, além de várias experiências de conexão e consciência cósmica no qual todo o universo apareceu a nós como um Oceano de Amor, no qual estamos todos emersos.

Pierre Weil fala ainda de experiências como a do Místico são Francisco de Assis.

... Daí por poucos dias, estando São Francisco ao lado da dita cela e considerando a disposição do monte, e maravilhando-se das grandes fendas e aberturas de rochedos grandíssimos, pôs-se em oração; e então lhe foi revelado por Deus que aquelas fendas tão maravilhosas tinham sido feitas miraculosamente na hora da Paixão de Cristo quando, conforme o que disse o evangelista, as pedras se espedaçaram. E isto quis Deus que singularmente aparecesse sobre o monte Alverne, para significar que nesse monte se devia renovar a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo na sua alma, pelo amor e a compaixão, e, no seu corpo, pela impressão dos estigmas. Tendo tido São Francisco esta revelação imediatamente se encerrou na cela e todo se recolheu em si mesmo, e dispôs-se a compreender o mistério desta revelação. E doravante, São Francisco pela continua oração começou a saborear mais frequentemente a doçura da contemplação; pela qual ele muitas vezes ficava tão arroubado em Deus, que corporalmente era visto pelos irmãos elevado da terra e arrebatado fora de si.
... Pela qual coisa frei Leão, maravilhando-se muitíssimo, levantou os olhos e olhou o céu, e olhando viu vir do céu uma chama de fogo belíssima e esplendíssima, a qual, descendo, pousou na cabeça de São Francisco, e da dita chama ouviu sair uma voz a qual falava com São Francisco; mas frei Leão não entendia as palavras.
... Cristo, o qual aparecia, falou a São Francisco certas coisas secretas e altas as quais São Francisco jamais em vida quis revelar a ninguém, mas depois de sua vida as revelou segundo se demonstra adiante, e as palavras foram estas: Sabes tu, disse Cristo, o que fiz? Dei-te os estigmas que são o sinal de minha Paixão, a fim de que sejas meu gonfaloneiro.
... e assim paruciam as mãos e os pés pregados no meio com cravos parecendo recurvos e rebatidos, de modo que entre a curvatura e o rebite ... facilmente se poderia meter o dedo da mão como num anel ...
... Semelhantemente, no lado direito, apareceu a imagem de uma ferida de lança ..., a qual depois muitas vezes ... ensangüentava-lhe a túnica e o pano das bragas.


Como vemos, nesta experiência de São Francisco citada por Pierre Weil, o êxtase da experiência mística fez Francisco calar-se, por não conseguir expressá-la em palavras, e, quando falou, somente algumas partes de seu testemunho, associado à presença do Cristo, puderam ser reveladas. Luzes como fogo o cercavam e marcas em seu próprio corpo, semelhantes às marcas do Cristo, apareceram como sinais de sua experiência profundamente espiritual de níveis mais elevados da realidade. Vale lembrar a grande integração de São Francisco com a natureza, seu modo de experimentar tudo o que existe como sendo seu irmão ou irmã, como o irmão sol, a irmã lua e os irmãos animais, com os quais coversava. É impressionante a semelhança com a experiência da culturas nativas tradicionais que entraram em relação com tudo, vendo tudo o que existe como portador de consciência e de vida.

A expoente autora da Tanatologia, Elisabeth Kübler-Ross (2012), ao falar de experiências de quase morte em seu livro “O Túnel e a Luz”, conta aexperiencia daqueles que foram declarados clinicamente mortos mas que voltaram à vida. Muitos apresentam estórias com um padrão de regularidade espantoso que pode ser interpretado como uma possibilidade simbólica de compreensão da realidade que nos espera para além da morte física. Ainda que não possam ser utilizadas como uma prova da existência da vida além da vida, as EQM são uma importante fonte de estudos da experiência transpessoal, bem como um fonte de maravilhosa reflexão sobre o viver e sobre o morrer.


“Depois de nos encontrarmos com aqueles que amamos e com nossos próprios guias ou anjos da guarda, passamos por uma transição simbólica, frequentemente descrita na forma de um túnel, de um rio ou de um portal. (...) Depois de passarmos por essa forma de transição muito bonita e individualmente apropriada, chamada de túnel, aproximamo-nos de uma fonte de luz que muitos de nossos pacientes descrevem e que eu mesma vivenciei na forma de uma experiência transformadora da vida, incrivelmente bela e inesquecível, chamada consciência cósmica.”


A presença dessa luz é atribuída muitas vezes a seres espirituais como anjos, Cristo ou mesmo Deus, e em tradições orientais pode ser identificada como a Clara Luz da consciência de Buda. Depois da experiência com esta Luz de amor incondicional, uma revisão da vida se processa, e as pessoas voltam da EQM com seus valores modificados, afirmando que o mais importante na vida é o aprendizado e o amor.



Por uma visão holística da realidade


Para Pierre Weil, a mudança de paradigma científico que estamos vivendo nos dias de hoje deve ser acompanhada por um movimento holístico de caráter transdiciplinar e transreligioso. Nesse sentido, acreditamos e investimos na via da Psicologia Transpessoal por acreditarmos que ela fornece uma nova visão de realidade na qual a totalidade do Humano está sendo levada em consideração, incluindo os aspectos espirituais do seu Ser sem patologizá-los como faz a moderna tradição científica com bases positivistas. Não que a patologia não exista, ela existe sim, mas as experiências espirituais de místicos e sensitivos, além das experiências de cura da consciência ampliada não podem mais ser suprimidas com psicoinibidores e sim devem ser elaboradas em contextos adequados com terapeutas amorosos e bem treinados.

Acreditamos no ser humano espiritual, capaz de viver experiências transpessoais para além da realidade centradas nos medos do eu e sim transcentrada ou centrada em níveis que buscam a totalidade do Ser, em níveis mais elevados de amor, de plenitude e de abundância de vida. Este ser humano está conectado em todos os níveis com a realidade física e energética na qual está inserido ou, em outras palavras, não existe separação entre humano e cosmos, o ser humano e o universo formam uma totalidade em forma de campo e cabe a cada um de nós escolher, dentre os diversos níveis de energia deste campo, com quais queremos nos sintonizar.

Vivemos em uma sociedade doente e com diversas crises que não podem ser resolvids senão em um nível de consciência coletiva mais elevado. A doença coletiva é responsabilidade de cada um de nós, e ela é mantida quando escolhemos o medo, o apego e o ego. Saúde e cura são escolha nossa, na medida em que escolhemos caminhar para descortinar o véu que nos oculta nosso Verdadeiro Ser. O autoconhecimento é a chave, na medida em que embarcamos em uma viagem que somente diz respeito a cada um de nós, uma viagem em busca de cura para nós mesmos que nos trás novas formas de nos relacionar com o universo ao nosso redor, curando também a nossos semelhantes. Assim, defendemos que poderemos abrir nossos corações e nossas mentes para experimentar os níveis mais levados do transpessoal amor que habita em nosso íntimo e espera que o despertemos, pois amor é o que somos.



Referências


CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 2008.

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. O Túnel e a Luz: reflexões essenciais sobre a vida e a morte. Campinas, SP: Verus Editora, 2012.

PIRES, Rogério. Ondas Cerebrais. Artigo disponível em: http://www.psicoterapiaholistica.org/biblioteca/Ondas%20Cerebrais.pdf. Acesso em 21/10/12 às 16h40min.

WEIL, Pierre. Antologia do Êxtase. São Paulo: Editora Palas Athena, 1992.

_______(et al). Transcomunicação: o fenômeno magenta. São Paulo: Cultrix, 2003.

WILBER, Ken. A Visão Integral. São Paulo: Cultrix, 2010.


O ZÉ-NINGUÉM E O SER HUMANO PLENAMENTE VIVO



Diante da crise civilizacional em que vivemos, respostas são necessárias para que possamos ampliar nossa visão do que é o ser humano e de como podemos fazer com que nossas vidas tenham sentido, como se pudéssemos pintar com cores e vibrações de níveis mais elevados de amor e de vida as vidas cinzentas, aprisionadas pelos medos e pelos caminhos tradicionais sob as leis do consumismo e da moralidade punitiva que faz as vidas humanas se apequenarem em subvidas acinzentadas, uma verdadeira morte em vida.

Em 1947 uma obra de profundo significado para a experiência humana foi enviada para a publicação. No prefácio de seu livro “Escuta, Zé ninguém”, foram apontadas as condições que levaram Wilhelm Reich a fazer este apelo humano para que nós possamos buscar a nossa cura deste grande mal que é a ausência de sentido de nossas vidas.

Ao longo dos anos, Reich observou, primeiramente com humor, depois com horror, o Zé Ninguém, assim chamado homem comum a viver uma vida comum e vazia de significado, adoecida, e que, em seu sofrimento, fere seus amigos e reforça seus inimigos, em sua cegueira costuma cair no totalitarismo quando detém o poder político seja de esquerda seja de direita, ou nos fundamentalismos religiosos de quaisquer credos. O ser humano bom, que ama a vida, acredita que todos são igualmente bons, corre perigo em uma sociedade adoecida, onde predominam os Zés Ninguém. O Zé Ninguém, infectado pela virulência de seu sofrimento e vazio, pela peste emocional que contagiou nossa sociedade, acredita que todos mentem, roubam, enganam e buscam desenfreadamente o poder, o que justificaria sua iniquidade.

O apelo de Reich é para que nós possamos abraçar a nossa força vital, Orgone, que se manifesta por meio do amor, do trabalho e do conhecimento. Seu desejo era o de que os educadores e os terapeutas verdadeiramente vivos pudessem ser fieis à força vital que reside nas crianças e nos pacientes. Ele acreditava profundamente que há em nós enterrados imensos tesouros de energia vital, prontos a serem retirados e para que os utilizássemos em nossas buscas pela realização. Seu trabalho é um canto de amor à verdadeira vida e à profundidade humana.

Zé Ninguém
Ser Humano Plenamente Vivo
Valoriza inimigos e mata amigos
Assume responsabilidades
Utiliza mal e cruelmente o poder
Preservação da vida
Obsessão por autoridade
Proteção das crianças
Exaltam o estado (fascistas)
Exaltam a justiça
Adoecido pela peste emocional
Usa tesouros ocultos para realização
Acredita que todos mentem enganam e tem sede de poder
Age com bondade, generosidade e sem suspeitas
Encouraçado, tem medo da vida
Resistência à peste emocional e entusiasmo pela vida
Quadro comparativo das características do Zé ninguém (Anomia ou Heteronomia) e do Humano Verdadeiramente Vivo (Autonomia).




Descaminhos do Zé Ninguém e sua vida sem sentido




A ilusória liberdade


O primeiro aspecto que o Zé ninguém desconhece de si mesmo é o caráter histórico e, portanto, construído, de todas as suas ações, desde sua apatia e sua ausência de sentido na vida até seu modo alienado de trabalhar apenas ou em grande parte para consumir objetos que estão para além de suas verdadeiras necessidades. E, ainda quando tem certo nível de consciência política, utiliza a política como mais uma forma de dominação humana, em vez de utilizá-la como instrumento de libertação, o que faz Reich apontar que tanto há Zés Ninguém de esquerda como de direita.

“Eles o chamam de Zé-Ninguém ou Homem Comum. Dizem que esta é a alvorada do seu tempo, a “Era do Homem Comum”. Não é você quem diz isso, Zé-ninguém. São eles, os vice-presidentes de grandes nações, os lideres operários e os filhos arrependidos da burguesia, os estadistas e os filósofos. Eles lhe dão o futuro, mas não fazem perguntas Sobre o seu passado. Você herdou um passado terrível. Sua herança é um diamante em brasa em suas mãos. É isso que eu preciso lhe dizer.”


O Zé Ninguém é aquele ser humano desumanizado, preso em suas máscaras, que acredita no discurso midiático de que é livre, pois pode consumir o que quer, acredita que pode trabalhar onde quer e fazer o que quiser de sua vida. Com este tipo de discurso, o Zé Ninguém não consegue perceber a principal ausência de liberdade que é a falta em relação ao conhecimento de si mesmo, o autoconhecimento.

“Um médico, um sapateiro, um mecânico ou um educador terá de conhecer suas deficiências se quiser realizar seu trabalho e com ele ganhar a vida. Já há algumas décadas você vem assumindo o controle, em todas as partes do mundo. O futuro da espécie humana dependerá dos seus pensamentos e atos. No entanto, seus mestres e senhores não lhe dizem como você realmente pensa e o que você realmente é, ninguém ousa confrontá-lo com a única verdade que poderia fazer de você o senhor inabalável do seu destino. Você é “livre” apenas sob um aspecto: livre da autocrítica que poderia ajudá-lo a governar sua própria vida. Nunca o ouvi queixar-se: ‘Vocês me exaltam como futuro senhor de mim mesmo e do meu mundo. Mas não me dizem como um homem se torna senhor de si mesmo e não me dizem o que há de errado comigo, o que há de errado com o que penso e faço’.”


O Zé ninguém é escravo, e não livre como acredita ser. Além disso, ele não sabe quando é um Zé Ninguém, enquanto que os grandes seres humanos sabem quando são pequenos, mas estão sempre lutando para ir além dos seus limites, estão sempre fazendo algo grande em significado. O Zé Ninguém, por sua vez, não sabe de sua estreiteza de pensamentos, e tem medo de saber. Esconde-se em máscaras de grandeza e poder que verdadeiramente não possui, a não ser nesta superficialidade, o que caracteriza suas conversas, os meios de comunicação, seu grau de (ausência de) reflexão sobre a vida.



O trabalho improdutivo


É muito claro que, no ambiente de trabalho, o Zé Ninguém é aquele que não quer assumir responsabilidades, mas odeia o patrão e odeia o trabalho por que no fundo odeia a si mesmo, não tem autoestima e não tem consciência do seu valor para a vida, por que não foi ensinado a amar a vida.  O Zé Ninguém tem medo da vida, e, portanto, foge do amor. O Zé Ninguém trabalha por que o disseram que tem de trabalhar, mas o faz apenas para ganhar sua miséria ao final do mês para comprara as coisas de que não precisa, as quais ele vê na televisão ou, mais atualmente, na internet. A ausência de sentido de sua vida, sua peste emocional, infecta também, portanto, o ambiente de trabalho, onde ele produz cada vez menos para si e para o mundo. O mesmo ocorre quando o Zé Ninguém frequenta cursos e universidades buscando como único objetivo ganhar diplomas que certifiquem externamente que ele é alguma coisa, já que internamente ele não tem nada para mostras. Assim, temos levas de estudantes em universidades e em cursos que estão ali mas sua presença é morta e sua participação é vazia, estando eles mais preocupados com as festas que visitarão em sua superficialidade consumista a cada final de semana.

Nossa sociedade nos ensina que devemos estudar para trabalhar e trabalhar para ganhar dinheiro. Poucos, no entanto, são os de nós que vão trabalhar ou estudar com aquilo que verdadeiramente amam e se interessam. Os que fazem escolhas baseadas neste amor vocacional estão sempre buscando crescer como seres humanos, sempre buscando ser plenamente vivos, enquanto que o Zé Ninguém não entende como alguém possa gostar de trabalhar ou estudar. Daí, o Zé Ninguém aqui no nosso contexto cultural, aqui no Brasil, deseja, em significativa parte das vezes, passar num concurso público que o pague aquilo que supostamente ele precisa, para depois ele nunca mais ter de trabalhar ou estudar.

“Eu digo: Só você mesmo pode ser seu libertador! A esta altura, hesito. Afirmo lutar pela pureza e pela verdade. Agora, porém, depois de decidir contar-lhe a verdade sobre você mesmo, hesito, por temor a você e à sua atitude para com a verdade. A verdade é perigosa quando diz respeito a você. A verdade pode ser saudável, mas qualquer turba pode se apoderar dela. Se não fosse assim, você não estaria na situação em que está. Minha razão diz: Fale a verdade a qualquer preço. O zé-ninguém em mim diz: Seria tolice pôr-se à mercê do zé-ninguém. O zé-ninguém não quer ouvir a verdade sobre si mesmo. Não quer a enorme responsabilidade que lhe caiu sobre os ombros, que é dele, goste ou não. Quer continuar sendo um zé-ninguém, ou se tornar um grande zé-ninguém. Quer enriquecer, tornar-se líder de partido, chefe da associação dos veteranos de guerras internacionais ou secretário de uma sociedade pelo aprimoramento moral. Não quer, porém, assumir a responsabilidade pelo seu trabalho, pelo abastecimento alimentar, pela construção, mineração, transportes, educação, pesquisa científica, administração ou seja lá o que for.”




Buscar a cura


O Zé Ninguém está muito doente, e não o sabe. A culpa de estar doente não é dele, mas o Zé ninguém tem a responsabilidade de buscar sua cura. Cada um de nós tem a responsabilidade de buscar a cura, pois o Zé Ninguém habita o interior de cada um de nós. Reich teme, pois aponta que o futuro da humanidade está nas mãos do Zé Ninguém. No entanto, o Zé apoia diretamente seus opressores, do mesmo modo como aconteceu também aqui, no Brasil, onde os Zés Ninguém apoiaram uma ditadura militar sanguinária em nome da suposta ordem e segurança nacional. Os seres humanos verdadeiramente grandes, que buscam a liberdade e o amor verdadeiramente, são estranhos à natureza do Zé Ninguém, o que o impede de distingui-los e sempre optar pelos seus opressores, que antes eram de classes dominantes, mas que hoje também são da mesma classe, tão Zés Ninguém como o Zé Ninguém que votou neles. O grande ser humano, por sua vez, é rotulado de criminoso em potencial ou de louco, doente ou transtornado mentalmente, como ainda acontece e com mais intensidade no momento atual em que vivemos, de profunda medicalização da sociedade. A própria espiritualidade é medicada e tratada com supressão, sendo interpretada quando não de modo subversivo ou com ironia crítica e vazia, sem argumentos, pelo menos como um caminho para loucos ou pessoas excêntricas, mas nada que um ser humano comum tenha com o que se meter. Devemos deixar de querer ser seres humanos comuns e normais em uma sociedade adoecida, devemos viver nossa loucura criativa e nossa busca no interior de nós mesmos.

“Por isso, porque ele é diferente de você, você o chama de “gênio” ou de “doido”. Ele, por sua vez, está perfeitamente disposto a admitir que não é nenhum gênio, mas apenas uma criatura viva. Você o chama de a-social porque ele prefere ficar só com seus pensamentos a ouvir a tagarelice vazia dos seus encontros sociais. Você afirma que ele é maluco, por que gasta dinheiro em pesquisa científica em vez de investi-lo, como você, em ações. Na sua degradação infinita, zé-ninguém, você ousa chamar um homem simples e franco de “anormal”. Compara-o consigo mesmo, com seus medíocres padrões de normalidade e o considera deficiente. Você não percebe, zé-ninguém, você se recusa a reconhecer que está afastando esse homem, que o ama e que só quer ajudá-lo, de toda vida social porque tanto no salão de festas quanto nos bares você a tornou insuportável. Quem o transformou no que ele é hoje depois de décadas de sofrimento desesperado? Foi você, com sua falta de escrúpulos, sua mentalidade tacanha, seu raciocínio deturpado e suas “verdades eternas”, que não conseguem sobreviver a dez anos de desenvolvimento social.”


O Zé-Ninguém é aquela pessoa que, atormentada por sua impotência sexual, não consegue trabalhar bem durante o dia, somente pensando em sexo. Mas, quando o trabalho de Reich aponta para uma economia sexual, uma possibilidade de cura para o problema do Zé-Ninguém, ele o ataca em nome da moralidade pública e diz que sexo não é tudo nesta vida. “Quando, depois de anos de trabalho árduo, o pesquisador afinal chega a entender por que você é incapaz de dar à sua mulher felicidade no amor, você vai e diz que ele é um depravado sexual Você diz isso porque você é um depravado sexual e, portanto, incapaz de amar, mas isso nunca chega a lhe ocorrer.”

Assim, os companheiros continuam se separando por somente viver o sexo sem sentido e por não saberem amar, as crianças continuam adoecendo e empalidecendo por falta da nutrição do amor que não recebem dos pais nem de ninguém, e tudo isto afeta, além das outras esferas da vida, a esfera do trabalho, que é vivida na completa dissociação, sem amor, sem inteireza, sem vida. O Zé-Ninguém não compreende, mas é no trabalho realizado com verdadeiro amor que o grande homem encontra a força vital, geradora de valores verdadeiros, de vida verdadeira, mas o Zé-Ninguém esmaga a liberdade da verdade e prefere a falsa segurança de suas ilusões. Reich comenta, acidamente: “Agora você compreende por que a felicidade lhe escapa? A felicidade quer que se trabalhe para alcançá-la e quer ser conquistada. Você, porém, apenas deseja devorar a felicidade. Ela foge por não querer ser devorada”.




Cultivar a Verdadeira Vida


Quando o pesquisador inicia sua pesquisa, a qual não tem lucros e resultados garantidos, o Zé-Ninguém o esquece, na melhor das hipóteses, ou, na pior, o atrapalha, o chama de louco ou psicótico, ainda que não saiba o que é psicose, o critica por ameaçar a moralidade ou o saber instituído, o declara como delinquente em potencial ou pervertido sexual, fazendo de tudo para o desmerecer e para que ele decline em seu propósito. Mas quando a descoberta científica finalmente sai no jornal, o Zé-Ninguém a proclama grande descoberta, ainda que não a entenda. E o cientista, motivado pela vitalidade que reside em seu interior à qual ele teve de batalhar para permanecer como uma chama viva, agora passa a ser chamado de gênio, pelos mesmos Zés Ninguém que o chamaram louco, e que também não sabem o que significa ser um gênio.

O Zé Ninguém não é e não quer ser capaz de se desenvolver, de ter uma nova ideia que possa contribuir verdadeiramente com o mundo. O Zé Ninguém somente deseja devorar e consumir tudo a sua volta, inclusive as novas descobertas dos que ele proclama gênio. É incapaz, contudo, de dar, de entregar-se, de amar, e, fundamentado em seu vazio interior apenas busca entupir-se de comida, dinheiro, sexo, conhecimento ou até mesmo trabalho, buscando nestas suas ilusões alguma plenitude idealizada que sempre escapa, que sempre exige mais, que sempre consome mais. Mas a verdade, e o risco que ela tem de despertar no Zé-Ninguém o amor, essa não é importante, e, portanto, ele foge da verdade e do amor.

Será, por fim, que o Zé-Ninguém é um perfeito inútil, que não tem valor e não tem jeito? Será que sempre escolherá a morte em vida em vez da verdadeira vida? Será que o Zé-Ninguém preferirá sempre o poder ao invés de escolher o amor? Reich acredita que não, que ele pode ser grande e pode aprender a amar, que pode curar-se e responsabilizar-se para enfim viver a verdadeira vida. É por isto que ele escreve este apelo. Amor, trabalho e conhecimento são as fontes da verdadeira força vital, que deverá ser cultivada em nós.


“Tudo o que fiz foi desnudar o zé-ninguém que existe em você, que vem desgraçando sua vida há milhares de anos. Você é grande, zé-ninguém, quando não é mesquinho e pequeno. Sua grandeza, zé-ninguém, é a única esperança que nos resta. Você é grande quando se dedica amorosamente ao seu oficio, quando tem prazer em entalhar, construir e pintar; em semear e colher; no céu azul, nos cervos e no orvalho da manhã, na música e na dança; no crescimento dos seus filhos e no belo corpo da sua mulher ou do seu marido; quando vai ao planetário estudar as estrelas, à biblioteca ler o que outros homens e mulheres pensaram acerca da vida. Você é grande quando seu neto se senta no seu colo e você lhe fala de tempos remotos e examina o futuro incerto com sua doce curiosidade infantil. Você é grande, mãe, quando embala seu bebê para ele dormir; quando, com lágrimas nos olhos, você ora com fervor pela felicidade futura dele; e quando, hora após hora, ano após ano, você constrói essa felicidade no seu filho. Você é grande, zé-ninguém, quando canta as canções folclóricas, boas e calorosas, ou quando dança as velhas danças ao som do acordeão, pois as canções folclóricas fazem bem à alma e são as mesmas no mundo inteiro.”


Concluímos com as palavras de Reich sempre encontradas ao início de suas obras, uma ode de amor à verdadeira força vital, a qual devemos descobrir dentro de nós em nossas caminhadas: “Amor, trabalho e conhecimento são as fontes de nossa vida. Deveriam também governá-la”. 

domingo, 12 de agosto de 2012


PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA TRANSPESSOAL



Introdução: Do humanismo à Transpessoal



Descontentes com as linhas de atuação e de interpretação do saber psicológico da Psicanálise e do Comportamentalismo, a primeira e a segunda força em psicologia, alguns sedentos pesquisadores elaboraram a terceira força em psicologia, o que podemos chamar de movimento humanista, que engloba, além das psicologias humanistas, as de caráter existencial e fenomenológico. Ainda que crescesse a popularidade da psicologia elaborada pelo movimento humanista, alguns de seus principais fundadores, Maslow e Sutich, se demonstraram insatisfeitos com o modelo conceitual que eles, originalmente, haviam criado. Segundo Grof, em seu artigo “Breve História da Psicologia Transpessoal”, eles foram se tornando cada vez mais conscientes que olvidaram um elemento extremamente importante do psiquismo humano, que é a dimensão espiritual.

A partir daí, segundo o autor, podemos perceber o renascimento do interesse em várias tradições místicas, em meditação, em sabedoria aborígine e antiga e em filosofias orientais, bem como, presente também com muita força no contexto cultural da época, a experimentação psicodélica, muito difundida durante os tempestuosos anos 60. Tudo isso deixou absolutamente claro, para Grof, que uma abrangente e trans-cultural Psicologia válida precisava incluir observações de semelhantes áreas do conhecimento e da sabedoria milenar humana, abrindo espaço para pesquisas e validando cientificamente experiências espirituais profundas como os estados místicos, a consciência cósmica, as experiências psicodélicas, que eram apontadas como caminhos de exploração da mente, o fenômeno do transe, a criatividade e a inspiração científica, religiosa e artística, dentre outros.

Este texto tem como base a aula que ministramos na disciplina de Psicologia e Espiritualidade em 2011.1, com orientação do professor Doutor Gustavo Alberto Pereira de Moura. O objetivo é falar da Psicologia Transpessoal, aspectos de sua História, sua caracterização e seus princípios psicoterapêuticos.



História da Transpessoal


Abraham Maslow acreditava e defendia que vivenciar o aspecto transcendente de nossas psiques era um importante e crucial exercício em nossas vidas. Esta discussão nos leva ao pensamento holístico, em que pensar de forma holística, não negando, mas sim indo além, transcendendo dualidades como certo, errado, bem ou mal, passado, presente e futuro é fundamental para uma nova forma de se fazer ciência e de se fazer Psicologia, abrindo espaço para explorações cada vez mais profundas da psique.  Maslow declarava que sem vivenciar a dimensão do transcendente ficaríamos doentes, violentos e niilistas, como a nossa sociedade tem se apresentado cada vez mais, e quedaríamos todos vazios de esperança e apáticos, fracos, corruptos, manipuláveis.

De acordo com Stanislav Grof (idem), na segunda edição do livro "Introdução a Psicologia do Ser" Maslow anunciara a organização da quarta força em Psicologia: que haveria de estar para além dos interesses personalizados de nossas pequenas identidades, estando assim mais elevada e centrada no cosmos. Em 1968, ele concluiu:

"Considero a Psicologia Humanista, a Psicologia da Terceira Força, transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda "mais forte", transpessoal, transumana, centrada no cosmos e não em necessidades e nos interesses humanos, que vai além da condição humana, da identidade, da autorealização, etc." (MASLOW apud GROF, in: “Breve História da Psicologia Transpessoal”).

A Psicologia Transpessoal aponta para algo maior do que o que somos, algo que seja respeitado, talvez reverenciado por nós, e ao qual nos entregamos, num novo sentido para nosso SER, que possa ir além da perspectiva materialista. Eminentes autores como Vitor Frankl, Stanislav Grof, James Fadiman e Antony Sutich uniram-se a Maslow e oficializaram, em um congresso realizado no ano de 1968, a Psicologia Transpessoal, enfocando o estudo da consciência e o reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique. Esse evento foi anunciado por Antony Sutich, em seu artigo “Transpersonal Psychology”.

Podemos, segundo a autora Vera Saldanha, conceituar PSICOLOGIA TRANSPESSOAL como "o estudo e aplicação dos diferentes níveis de consciência em direção à unidade fundamental do ser.” Busca-se então uma unidade entre tudo o que existe, para além dos interesses exclusivos da humanidade ou de uma pequena parte dela. A autora acrescenta: “A visão de mundo, na transpessoal, é a de um todo integrado, em harmonia, onde tudo é energia”, e conclui que esta totalidade estaria “formando uma rede de inter-relações de todos os sistemas existentes no universo” (SALDANHA, Vera apud SIMÃO, Manoel. In: “Psicologia Transpessoal e Espiritualidade”).

Conforme o artigo de Manoel Simão (idem), o termo Transpessoal foi adotado depois de uma considerável deliberação para abranger os relatos de pessoas praticantes de várias disciplinas da consciência e que falavam de experiências de uma extensão da identidade para além da individualidade e da personalidade. Desse modo, não poderemos considerar a Psicologia Transpessoal um modelo de personalidade em termos estritos, porque a personalidade é tida como apenas um dos aspectos da nossa natureza psicológica; a Psicologia Transpessoal é, antes, um instrumento de pesquisa da natureza essencial de nosso SER. O termo, segundo o autor, foi utilizado pela primeira vez na área da psicologia, pelo precursor da Transpessoal Carl Gustav Jung, utilizando a palavra überperson, em 1916, e uberpersönlich, em 1917, que significam supra-pessoa e supra-pessoal respectivamente. Alguns dos pioneiros da Transpessoal foram: Abraham Maslow, Anthony Sutich, Carl Rogers, Stanislav Grof, Ken Wilber, Jean-Yves Leloup, e no Brasil: Pierre Weil, Roberto Crema, Vera Saldanha, e muitos outros.

Ainda conforme o autor, Vera Saldanha, psicóloga, pioneira no estudo e prática da Transpessoal no Brasil em sua tese de doutorado na Unicamp refere, ao formalizar sua investigação, que se deparou com uma literatura vasta em Transpessoal. Sua primeira necessidade foi distinguir alguns conceitos que incluem: o movimento, a experiência e as disciplinas. Para ela, o movimento transpessoal integra as diversas disciplinas que se dedicam à inclusão e ao estudo das experiências transpessoais, e dos fenômenos correlatos a suas aplicações.

Para Walsh e Vaughan, conforme mesma referência, a experiência transpessoal, pode definir-se como “aquela em que o senso de identidade ou do eu ultrapassa (trans + passar = ir além) o individual e o pessoal a fim de abarcar aspectos da humanidade, da vida, da psiquê e do cosmo”.

Em relação às disciplinas que podemos apontar dentro do movimento transpessoal temos a Psiquiatria Transpessoal, a qual se concentra no estudo das experiências e fenômenos transpessoais, enfocando, particularmente, seus aspectos clínicos e biomédicos. A Antropologia Transpessoal, a qual se refere ao estudo transcultural dessas experiências e da relação entre a consciência e a cultura. Há a Sociologia Transpessoal, que estuda as dimensões e expressões sociais desses fenômenos e há a importantíssima Ecologia Transpessoal, que aborda as repercussões e aplicações ecológicas dos referidos estudos (SIMÃO, idem).



Características da Psicologia Transpessoal



1)Temáticas privilegiadas para a Psicologia Transpessoal:


De acordo com BOAINAIN JR, as temática de maior interesse para a Psicologia Transpessoal, e para o Movimento Transpessoal, seriam: 1) A espiritualidade e as dimensões da vida religiosa; 2) As potencialidades últimas e a auto-realização do humano; e 3) Os estados ampliados de consciência, incluso as experiências transpessoais.


2) Modelo de Ciência


Gostaríamos de citar o texto de BOINAIN JR. Elias, “Tornar-se Transpessoal” o qual consideramos importante para abordar esta questão:

 “a visão holística do novo paradigma, que assume como uma das propostas centrais a superação de todas as fronteiras disciplinares e mesmo o rompimento da compartimentalização das áreas do saber humano (donde se vêem crescentes aproximações transdisciplinares entre filosofia, ciência, arte e religião)”.

Conforme vimos, o paradigma holístico, desenvolvido a partir das consequências das descobertas da Física Quântica e Relativística, é o ponto de partida para o movimento transpessoal, que também se apresenta como trans-disciplinar, incentivando o diálogo entre as múltiplas áreas do saber humano e de todas as épocas, visando, assim, uma elaboração mais profunda do ser humano e sua relação com o cosmos.


3)Visão de homem


De acordo com BOAINAIN JR, a visão do ser humano que está presente na abordagem transpessoal implica: 1) Aceitação de instâncias superiores da consciência e do potencial humano; 2) Destaque aos aspectos transcendentes e espirituais; 3) Superação da condição humana para uma condição transumana, transpessoal, cósmica ou mesmo divina (a separação é ilusão); 4) Busca da transcendência como parte da natureza humana; 5) Atenção à busca da realização espiritual (necessidade básica do humano); 6) Busca do crescimento emocional e da satisfação de necessidades superiores; e muito muitos outros aspectos.



Epistemologia da Transpessoal


      Pierre Weil, em seu livro “As Fronteiras da Evolução e da Morte”, conforme o artigo de Manoel Simão, postula alguns princípios epistemológicos que fundamentam a psicologia Transpessoal: 1) Existem sistemas energéticos inacessíveis aos nossos cinco sentidos, mas registráveis por outros sentidos; 2) Tudo na natureza se transforma e a energia que a compõe é eterna; 3) A vida começa antes no nascimento e continua depois da morte física; 4) A vida mental e espiritual forma um sistema suscetível de se desligar do corpo físico; 5) A vida individual é inteiramente integrada e forma um todo com a vida cósmica; 6) A evolução obtida durante a existência individual continua depois da morte física; 7) A consciência é energia, que é vida, no sentido mais amplo: não apenas a vida biológica, física, mas também a da natureza, do Espírito, a vida-energia, infinita na suas mais diferentes expressões; dentre outras. Para uma mais aprofundada exposição, sugerimos o texto original.

Além disso, Pierre Weil especifica distintas áreas de aplicação das disciplinas com orientação transpessoal: Por Educação Transpessoal, podemos compreender o conjunto dos métodos que permitem descobrir ou revelar o transpessoal dentro do ser humano, bem como desenvolvê-lo. Por Psicoterapia Transpessoal, entendemos o conjunto de métodos de tratamento das normoses, neuroses e outras psicopatologias pelo despertar do transpessoal, e das psicoses pela exteriorização do transpessoal que já estaria semipotencializado. Por Terapia Transpessoal, por sua vez, designamos o conjunto de métodos de restabelecimento da saúde integral e holística pela progressiva redução da ilusão da existência de um “eu” separado do mundo, pela ampliação da consciência e pela realização dos aspectos profundos de nosso verdadeiro SER.



Psicoterapia Transpessoal


De acordo com Manoel Simão, a Psicoterapia de orientação Transpessoal visa promover ao cliente a possibilidade de ele se encontrar, o que pode consistir em mapear os seus “problemas” e a situá-los no ambiente social, cultural, familiar, profissional, afetivo, espiritual, etc., o que por si só já é altamente terapêutico e ainda possibilita a diminuição da ansiedade e a potencialização da autoconfiança, requisitos necessários e importantes ao início do processo de auto-cura. Isto porque, dentro desta perspectiva, é a psique quem se cura, através de seus mecanismos de busca do próprio equilíbrio.

O terapeuta que situa suas práticas dentro desta nova abordagem deve ser encarado como um facilitador, que acompanha amorosamente o desenvolvimento psicoespiritual de seus clientes, como se faz, metaforicamente, ao apresentar o solo correto para que possam florescer os botões em um jardim.

Na Psicoterapia Transpessoal nosso dever consistiria, segundo o autor, em conscientizar os clientes acerca da sua natureza e a extensão do seu desalinho emocional, bem como pontuar e passar informações sobre a possibilidade de desenvolver suas potencialidades e capacidades inatas, as acolhendo em seu incipiente surgimento, sendo estas formas trans-convencionais de ser, de recriar-se, de expressar-se, oferecendo recursos para viabilizar seu florescimento.

Para o autor, quando uma pessoa procura a psicoterapia, quase sempre seu objetivo é a diminuição e até a eliminação de um estado de sofrimento decorrente de dificuldades de ordem emocional e, acrescenta, espiritual. No caminho que faz para o interior de si mesma, ela tem a chance de adquirir mais conhecimento de seu verdadeiro modo de SER e de desenvolver-se como pessoa, buscando sua plenitude e realização. No contato consigo mesma, seja para descobrir os recursos pessoais para a evolução, seja para encarar seus “estados de consciência”, como sintomas ou processos defensivos, um guia ou orientador experiente apresenta-se como necessário. Ai está o que parece ser uma das funções básicas do trabalho terapêutico. Sabemos o quanto o acompanhamento de uma ajuda acolhedora e gentil, porém firme e determinada ao apontar para os aspectos corretos do processo é fundamental para que se possa executar os mergulhos nas profundezas do SER mais profundo de cada um de nós.

De acordo com o artigo de Fátima Corga, “Psicologia Tranpessoal”, o que caracteriza um terapeuta transpessoal não é o seu conteúdo, mas sim o contexto. O conteúdo é determinado pela relação terapêutica em si, entre cliente e terapeuta, como, segundo ela, bem o estabeleceu Carl Rogers. Para a autora, um terapeuta transpessoal deve aprender a lidar com os problemas que emergem durante o processo terapêutico, incluindo acontecimentos mundanos, fatos biográficos e problemas existenciais. Contudo o que realmente define a orientação transpessoal é um modelo mais amplo da psique humana, que seja capaz de reconhecer a importância das dimensões espirituais e o potencial que esta dimensão apresenta para a evolução da consciência. O terapeuta transpessoal, assim, deve ser consciente do espectro total das experiências psíquicas de que é capaz o ser humano, e deve sempre acompanhar o cliente em sua exploração de novos campos experiências, quando há oportunidade, não importando qual o nível que o processo terapêutico esteja focalizando.

O próprio Rogers, ainda segundo Fátima Corga, referiu-se muitas vezes em suas últimas obras às percepções transpessoais e fenômenos congêneres de estados sutis de consciência, e estabeleceu ele que estes são eventos observáveis e inerentes ao trabalho bem sucedido com Grandes Grupos e Workshops:

“O outro aspecto importante do processo de formação de [Grandes Grupos] com que tenho tido contato é a sua transcendência e espiritualidade. Há alguns anos eu jamais empregaria estas palavras. Mas a extrema sabedoria do grupo, a presença de uma comunicação profunda quase telepática, a sensação de que existe "algo mais", parecem exigir tais termos” (ROGERS apud CORGA, in: “Psicologia Transpessoal”).

Ainda Rogers: “Tenho a certeza de que este tipo de fenômeno transcendente às vezes é vivido em alguns grupos com que tenho trabalhado, provocando mudanças na vida de alguns participantes. Um deles colocou de forma eloquente: "Acho que vivi uma experiência espiritual profunda, senti que havia uma comunhão espiritual no grupo. Respiramos juntos, sentimos juntos, e até falamos uns pelos outros. Senti o poder de força vital que anima cada um de nós, não importa o que isso seja. Senti sua presença sem as barreiras usuais do 'eu' e do 'você' - foi como uma experiência de meditação, quando me sinto como um centro de consciência, como parte de uma consciência mais ampla, universal” (idem).

De certa forma, de acordo com a autora, Rogers parecia estar indicando que a ACP por ele elaborada, junto com seus colaboradores, estaria se desenvolvendo a ponto de incluir as dimensões transpessoais em seu arcabouço teórico, mas a sua morte o impediu de levar adiante seus insights:

“Tenho a certeza de que nossas experiências terapêuticas e grupais lidam com o transcendente, o indescritível, o espiritual. Sou levado a crer que eu, como muitos outros, tenho subestimado a importância da dimensão espiritual ou mística” (ROGERS, idem).



Conclusão


Em nossa compreensão talvez não exista uma diferença entre Psicoterapia Transpessoal e Terapia Holística, ou Terapia Transpessoal. Da mesma forma, ainda que apontemos diferenças entre as dimensões biológico-corporal-ecológica, social-relacional, psicológica e espiritual-transpessoal do ser humano, acreditamos ser esta divisão um artifício didático, o qual ainda é imprescindível tendo em vista nosso modo de pensar científico afeito às divisões. No entanto, quando superarmos este modo de pensamento analítico e limitante, quando conseguirmos pensar de modo holístico, somente haverá o ser humano, e suas dimensões biológicas, sociais, psicológicas e espirituais formarão uma totalidade, a qual na verdade já formam, e nós a dividimos. O terapeuta será um cuidador do ser humano por inteiro, sua visão será holística mesmo que sua atuação seja pontual, não havendo mais necessidade de diferenciar e, principalmente, não havendo mais hierarquias, entre os diversos níveis do ser terapeuta. Ser terapeuta estará novamente ligado à sua raiz etimológica, aquele que serve a deus, no sentido de atender às leis curativas e transformadoras da natureza, de fazer retornar o desequilíbrio para o natural equilíbrio.

Compreendemos que muito há para avançar em termos de desenvolver uma abordagem terapêutica para o movimento transpessoal. Talvez esta perspectiva também ainda tenha muito a crescer em visão e, principalmente, ainda há muito a ser consolidado. Cada vez mais consideramos, no entanto, que o espaço para a dimensão espiritual cresce por um lado, na medida em que a crise civilizacional de falta de sentido também aumenta, por outro lado. É somente na transcendência do ego que podemos encontrar um novo modelo de civilização, um novo paradigma de humanidade, ou transumanidade. Esperamos que um dia possamos conseguir nos enxergar a todos como irmãos de tudo o que é vivo, como faziam as civilizações mais distantes no tempo. No entanto, nosso destino não é voltar no tempo, e sim avançar, reinventar o que significa ser humano, fazer a humanidade dar mais um passo, o qual esperamos que seja em direção à sua saúde holística, em direção à comunhão com a vida e com o universo.



Referências:


BOINAIN JR, Elias. Tornar-se Transpessoal. Transcendência e Espiritualidade na obra de Carl Rogers. São Paulo: Summus, 1998.

CORGA, Fátima. Psicologia Transpessoal. Fonte: http://www.institutoluz.com.br/?p=artigo16. Acesso em 2011-02-18 às 15h45min.

GROF, Stanislav. Breve História da Psicologia Transpessoal. Fonte: http://www.aljardim.com.br/pt.htm. Acesso em 2011-02-18 às 16h30min.

SIMÃO, Manoel. Psicologia Transpessoal e Espiritualidade. Artigo publicado na Revista Saúde - Universidade São Camilo Ano 34. Fonte: www.alubrat.org.br. Acesso em 2011-02-19 às 16h40min.