domingo, 15 de dezembro de 2013

A Unidade Corpo e Psique



A mente de um sábio é aquela que vive na unidade, somático e psíquico, corpo e alma, numa sagrada ioga, numa unidade e totalidade. A palavra hindu ioga significa união, no ensinamento do Professor Hermógenes (s.d.). O mesmo podemos dizer de Tai Chi, termo chinês para união dos opostos. Muitos são os estudos da psicologia ocidental para estabelecer a relação entre mente e corpo, e escolas como a Bioenergética e a Gestalt apontam para a unidade psicossomática. Também estudos junguianos foram feitos no sentido de estudar a unidade entre corpo e psique.

O objetivo destas nossas breves considerações é estabelecer uma relação existente entre psique e corpo, tendo em vista que estas dimensões do ser humano são marcadamente constituídas quando ele encontra-se em relação, em sociedade. Assim, falamos que o ser humano possui uma multidimensionalidade que é corporal e biológica; social, cultural e histórica; psicológica, emocional e mental; e, também, simbólica, arquetípica, espiritual. Estamos propondo um ser bio-psico-socio-espiritual, acreditando que nenhuma destas dimensões pode ser excluída ao querermos analisar e compreender as multidimensões do fenômeno humano. Nós analisaremos esta multidimensionalidade a partir da interrelação corpo e espírito, formando estes dois, simbolicamente, uma totalidade, e, para isto, traremos considerações da Gestalt-terapia, da Psicologia Analítica e da Bioenergética.

A princípio, quando analisamos a unidade corpo-psique pela Gestalt-terapia, encontramos em PONCIANO (1994) que a relação terapêutica é uma relação que ocorre dentro da multidimensionalidade que são tanto o terapeuta como o cliente. Assim, terapeuta e cliente encontram-se tanto em suas dimensões corporais como psicológicas, trazendo também suas dimensões sociais e espirituais para a relação, uma totalidade humana indissociável. A relação se daria em todo um campo energético que envolveria dimensões visíveis e conscientes e também dimensões invisíveis e inconscientes. Para o autor, o corpo traria em si o inconsciente do paciente, através de uma linguagem corporal que expressaria aquilo que o cliente é, por mais que ele não tome consciência disso. Assim, para além de considerar o discurso, a fala, a dimensão consciente, a visão holística que busca a Gestalt-terapia pretende integrar também o corpo, na dimensão da terapia individual, e o grupo como um todo, na terapia de grupo, sendo que cada membro constituinte poderia servir de reflexo das dimensões inconscientes daquele cliente que está em terapia. O grupo funcionaria como um campo energético de multirrelações com o objetivo de trazer à luz da consciência aspectos até então inconscientes e dissociados. Nesta perspectiva, a doença seria a perda ou afrouxamento dos laços dinâmicos entre estas multidimensões do humano, e acura estaria na recuperação destes laços, o que faz do ser humano um amante, consciente ou inconsciente, de sua totalidade.

Para a Psicologia Analítica, desenvolvida por Carl Gustav Jung, corpo e psique são ambos dimensões do inconsciente. Segundo ZIMMERMANN (2009), o trabalho com a corporalidade pode ser uma forma de trazer à consciência aspectos do inconsciente, que se manifestam no corpo. Ao realizar um trabalho corporal como dança, Ioga, Tai Chi Chuan e tantas outras formas, são produzidos símbolos que tem como objetivo integrar consciente e inconsciente, corpo e psique, promovendo assim maior saúde e conexão com o processo de individuação, tornar-se um, integrar-se com a nossa totalidade. Quando isto não ocorre, o corpo expressa a dissociação e a doença na forma de sintomas. O corpo é capaz de carregar nossos estados afetivos, nossas vivencias, e conectar-se com o corpo é conectar-se também com o núcleo mais profundo da psique, ao qual Jung chamou de Self ou Si-mesmo. O Si-mesmo é psique e é corpo, e a integração do eu com o Si-mesmo, da nossa realidade mais superficial com nossas dimensões mais profundas, pode acontecer através deste diálogo do corpo com a psique, através da expressão corporal.

A Bioenergética é uma abordagem em Psicologia Transpessoal desenvolvida por Alexander Lowen, discípulo de Wilhelm Reich, a partir de estudos sobre a relação entre o corpo e a mente. Em seu “A função do orgasmo”, REICH (2004) postula que há no ser humano uma só energia, o orgônio, que se expressa na corporalidade e no psiquismo. Dizendo de outra forma, corpo e psique seriam expressões da mesma energia vital, a bioenergia. As emoções acumuladas, não vividas e não expressas, tenderiam a se acumular no corpo na forma de tensões, as chamadas couraças de caráter, que impedem o ser humano de se conectar com seu próprio fluxo de energia e de vida. O trabalho da bioenergética, segundo LOWEN (1984), seria combinar exercícios de movimento, meditação e respiração com o objetivo de dissolver estas tensões e restaurar o fluxo da vida, que acontece no corpo e se expressa como movimento, vibração, respiração profunda, flexibilidade, harmonia, leveza e graça. Este fluxo de bioenergia, ao ser restaurado, também encontra expressões cada vez mais elevadas na psique, se manifestando como maior criatividade, autoconhecimento, autoexpressão, afetividade, amor, prazer de viver, integridade e autorrealização.

Seja qual for a abordagem, muitos trabalhos nos mostram que corpo e psique são um só, que a totalidade humana pode ser almejada e passo a passo conquistada através da vivência corporal, com seus afetos, símbolos, com sua energia que pode fazer de nós seres humanos mais vibrantes e realizados, mais integrados e em conexão com a vida. 

Concluímos, então, incentivando nossos irmão de caminhada a cuidar do corpo, nosso templo, nossa casa, onde habita nossa energia de vida. Incentivamos práticas como a dança, as artes marciais, os esportes, principalmente em contato com a natureza, além de práticas respiratórias e meditativas como a Ioga e o Tai Chi Chuan. Aproveite: cuidar de si é cultivar a própria qualidade de vida!



Referências Bibliográficas
HERMÓGENES, José. Autoperfeição com Hatha Yoga. Rio de Janeiro: Record, s.d.
LOWEN, Alexander. Prazer: Uma abordagem criativa da vida. São Paulo: Summus, 1984.
PONCIANO RIBERIO, J. Gestalt-terapia, o processo grupal. São Paulo: Summus, 1994.
REICH, Wilhelm. A função do orgasmo. São Paulo: Brasiliense, 2004.
ZIMMERMANN, Elisabeth. Corpo e Individuação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

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