UMA
REFLEXÃO SOBRE A SOLIDÃO
Certa
vez, um discípulo caminhava pela floresta que conduzia ao templo de seu mestre.
Sua alma estava dolorida pelo período de solidão ao qual enfrentava. Ao receber
o discípulo, o mestre conduziu-o por uma meditação para suavizar e acalmar sua
mente, e seguiu-se o diálogo:
-
Mestre, parece-me que às vezes agimos baseado no medo da solidão. Atuamos
utilizando máscaras, as quais estão mais de acordo com o que os outros esperam
de nós do que o que realmente nos indica a voz de nossa intuição, o chamado de
nosso Ser mais profundo. Como a sabedoria pode nos ajudar a atravessar o medo
da solidão?
-
Meu filho, a sabedoria de toda uma vida é como uma flor que nasce dos pântanos
da alma. Enquanto a solidão alimenta-se e brota justamente da mesma substância
que alimenta as nossas sombras interiores, a gratidão pela vida na contemplação
do Ser verdadeiro transmuta em luz de amor todos os medos. Onde habita a
gratidão e o amor, não pode haver espaço para o medo. O medo é fruto do
egoísmo, a prisão do ego que nos acorrenta e nos impede de dar um passo no rumo
de nossa felicidade. Quando estamos no espaço interior a partir do qual
sentimos gratidão, estamos como fosse no olho do furacão. Há muito movimento,
causado pela mente, pelo ego e pelas sombras. Há o movimento de nossa própria
vida encarnados na matéria, que ruge qual a mitológica Babilônia, o grande
furacão da inconsciência coletiva, também chamada Maya. Mesmo assim, em meio ao
medo, em meio à incerteza ou em meio à dor, podemos conscientemente nos
sintonizar com a gratidão, agradecendo os aprendizados do passado e do
presente, e desenvolvendo confiança de que nos próximos passos a vida nos trará
novos caminhos, afinal de contas tudo é mutação. A vida é rio que corre sempre
em frente, então podemos expressar gratidão e fluir junto com o rio, observando
sua passagem. As águas do rio não podem ficar presas àquela bela montanha ou
àquelas belas pradarias que ficaram no passado, que ficaram para trás. Às vezes
as águas do rio devem ser levadas às regiões áridas, representação daquilo que
habita em nosso interior e não queremos enxergar. De qualquer forma, elas devem
permanecer correndo no fluxo da vida, para desaguar no oceano e cumprir sua
meta, culminando assim na autorrealização, no cumprimento de seu propósito mais
profundo. A meta da vida é o aprendizado constante, através do desenvolvimento
da consciência até que culminemos com nossa entrada consciente de volta a TAO,
o que representa a salvação ou a iluminação, como mergulho de dissolução num
Oceano de Amor que já está em nós, mas que ainda não conseguimos perceber. A
gratidão, a compaixão e o amor é o caminho dos sentimentos nobres que nos
sintonizam com o fluxo da Vida, e é a amorosidade de nosso ser essencial um
caminho como bálsamo salutar que nos facilita o retorno ao fluxo de TAO, a ser
aquilo que nós verdadeiramente somos.
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